LER, LEITURA, LIVROS - Um texto de Thomas Merton
- Frei Basílio de Resende ofm
- 16 de set. de 2020
- 2 min de leitura
LER, LIVROS, LEITURA – UM TEXTO DE THOMAS MERTON
Capítulo XIV
Ler deveria constituir um ato de homenagem ao Deus de toda verdade.
Abrimos nossos corações a palavras que refletem a realidade por ele criada ou à maior realidade de é ele mesmo. É também um ato de humildade e reverência para com outros homens, que são instrumentos por meio dos quais Deus nos comunica a sua verdade.
A leitura dá a Deus maior glória quando a aproveitamos melhor, quando é um ato mais profundamente vital, não só da nossa inteligência, mas de toda a nossa personalidade, absorvida e refeita na reflexão, na meditação, na oração, ou até mesmo na contemplação de Deus.
Os livros podem falar-nos como a voz de Deus, ou a dos homens, ou como a algazarra da cidade em que vivemos. Falam-nos com a voz de Deus quando nos trazem luz e paz e nos enchem de silêncio. Falam-nos com a voz de Deus quando desejamos nunca deles nos separar. Falam-nos com a voz dos homens quando sentimos desejo de ouvi-los novamente. Falam-nos como a algazarra da cidade quando nos mantêm presos por uma lassidão que nada nos comunica, não nos dão paz, nem conforto e, no entanto, não nos deixam escapar ao seu engodo.
Livros que falam com a voz de Deus fazem-no com demasiada autoridade para nos divertir. Os que falam com a voz de homens bons, nos atraem pelo seu encanto humano; crescemos encontrando neles nossa semelhança. Ensinam-nos a melhor nos conhecer reconhecendo-nos num outro.
Livros que falam como a algazarra das multidões nos reduzem ao desespero pelo simples peso do seu vácuo. Distraem-nos com as luzes das ruas da cidade à noite, com esperanças que não podem ser realizadas.
Por maiores e por mais amigos que nos possam ser, os livros não substituem, todavia, pessoas; são apenas meios de contato com grandes personalidades, com pessoas que possuíam mais do sua parte individual de humanidade, pessoas dotadas de qualidades para o mundo inteiro e não apenas para si.
Ideias e palavras não constituem o alimento da inteligência, mas sim a verdade. E não uma verdade abstrata, que alimenta apenas o espírito. A verdade que uma pessoa espiritual busca é a verdade total, realidade, existência e essência conjuntamente, algo que possa ser abraçado e amado, algo que possa receber a homenagem e o serviço de nossas ações; mais do que uma coisa, mas pessoas ou uma pessoa. Aquele cuja essência é sobretudo existir: Deus.
Cristo, a palavra encarnada, é o Livro da Vida. Nele é que lemos Deus.
(“Na Liberdade da Solidão”, Thomas Merton, Vozes, 2002 p. 51-52)
Paz plena... Frei Basílio, belo artigo. Os livros são sim construídos por PALAVRAS escritas. Lembro-me muito bem quando comecei a receber revelações da Espiritualidade em janeiro de 1980 foi por meio de PALAVRAS, que apareceram escritas dentro de um círculo, que materializou na minha frente e as copiei. Esse processo ou fenômeno aconteceu por várias vezes do dia 7 a 10/01/1980 e tenho tudo escrito comigo. Paz plena para todos.