UMA FRATERNIDADE RELIGIOSA VISITADA PELO NOVO CORONAVIRUS.
- Frei Basílio de Resende ofm
- 8 de jan. de 2021
- 5 min de leitura
CRÔNICA DA FRATERNIDADE: NOVEMBRO COM COVID 19
Novembro 2020 veio com uma surpresa: a vivência e experiência do coronavirus.
Noviciado São Benedito / ofm / 2020 Montes Claros MG
No dia 05 de novembro de 2020, dois noviços foram encaminhados a deixarem o noviciado e buscar seu caminho no discipulado de Cristo em outra forma de vida.
Frei Jaime, o Guardião e Mestre, já com febre, os levou, à noite, à rodoviária.
Frei José estava em Aimorés ajudando no tríduo em preparação do início de nossa presença evangelizadora e pastoral nessa cidade, da Diocese de Governador Valadares.
Neste dia 05, à noite, Frei Basílio também sentia-se febril. Então, os dois frades mais velhos da Fraternidade apareceram com sintomas de alguma infecção: Frei Basílio, com tosse seca, fraqueza e estado febril; Frei Jaime com pressão baixa, 10/07, dores de cabeça e lombares, fraqueza. Esses sintomas, manifestaram-se mais fortes, no dia seguinte, dia 06, sexta-feira.
No sábado, dia 07, pela manhã, ambos foram levados ao Hospital Aroldo Tourinho, pelo Vanderlei.
Foram atendidos e considerados suspeitos pela Covid 19. Foram recomendados a tomar “Dipirona em caso de febre ou dor; à hidratação oral frequente e retorno hospitalar, se necessário”. Recomendados que ficassem em isolamento e foi solicitado para eles “RT-PCR PARA COVID 19 – SWAB NASOFARINGE E OROFARINGE”
Dia 08, pela manhã, chegou Frei José.
No dia 10, terça-feira, veio ao Noviciado uma equipe do SUS, para a coleta do material pedido. A enfermeira fez a coleta nas narinas e faringe, um processo nada agradável, e disse que após 9 dias verificássemos pelo WhatsApp, do SUS, o resultado.
No dia 11, sob orientação de Frei Hilton, o Ministro Provincial, Frei José levou os cinco noviços a um laboratório para fazer o teste RT-PCR. O resultado veio rápido e nos surpreendeu a todos: 4 noviços testaram positivo, estavam infectados, Frei Diogo, Frei Cândido, Frei Isaque e Frei Keven. Resultado negativo para Frei Marcio. E Frei José já havia feito um teste de sangue antes, também negativo.
Foi um susto e um resultado surpreendente para todos. Éramos 8 pessoas residentes e 6 estavam infectadas pelo famoso – invisível, mas bem eficiente – o novo coronavirus. Ele não respeita nem grandes, nem pequenos; prefere idosos e portadores de alguma morbosidade. Desafia presidentes que zombavam dele, culpavam a imprensa, insultavam e ofendiam os jornalistas, e diziam que era fruto de ideologias contrárias e de histeria coletiva. Não tem piedade para com heroicos médicos, enfermeiros e demais profissionais da saúde, em hospitais, clínicas e postos de saúde. Ele testa o bom senso, o discernimento, a responsabilidade social e a sabedoria política de gestores públicos e privados.
Então, afinal, o famoso agente invisível estava presente e atuante em nossa fraternidade, nos organismos dos frades.
Nossa reação: cuidados e atitudes tomadas:
· Dispensamos a cozinheira, que é mãe de duas crianças.
· Uso de máscaras em todos os ambientes de reunião fraterna: capela, refeitório, sala de aula, sala de reuniões.
· No refeitório, os infectados ficaram em uma mesa, e Frei Márcio e Frei José, em outra.
· Uso mais frequente de álcool-gel
· Lavar com mais frequência as mãos
· Um só presidente da Eucaristia no altar; e, este, usa o álcool gel no início antes da saudação, antes do ofertório e antes de partir o pão eucarístico para a comunhão; não mais dar a comunhão nas mãos; cada comungante toma a sua partícula.
· Fechamos o portão para não receber participantes da Eucaristia.
· Não mais celebramos Missas fora, nas Comunidades.
No dia 17, Frei Jaime e Frei Basílio receberam, pelo WhatsApp do SUS, a confirmação de que estavam infectados. Depois, disto, Frei José, também, foi a um laboratório e fez a teste RT-PCR; deu negativo.
Frei Jaime experimentou sintomas mais severos. Chegou a ficar acamado. Entre os demais frades, os sintomas foram diversos: dores de cabeça, febre, fraqueza, sintomas digestivos e excretórios (perda do olfato e paladar, e diarreias), etc.
Mas nenhum de nós, os 6 frades infectados, teve de ser hospitalizado. Creio que devido ao estilo de vida regular e saudável que levamos: deitar cedo, pelas 22/23h, e levantar cedo, pelas 05h15; boa alimentação, com bastante verdura; trabalho manual ao sol pelas manhãs; prática de esporte duas vezes por semana; repouso após o almoço e estudos à tarde; mas sobretudo uma vida orante e contemplativa na Liturgia das Horas, Eucaristia e Meditações.
O ritmo normal da vida continuou, apesar da situação de infectados: a Liturgia das Horas, pura poesia e espiritualidade, Meditação, Eucaristia, trabalhos, refeições, estudos, tudo nos horários normais. Trabalhos em hortas e jardins pelas manhãs, aulas e estudos, às tardes ou noites; recreações e convívios.
Aparentemente não houve sinais de medo descontrolado, pânico ou estresse. Se houve pânico ou algum medo exagerado e desproporcional – mais imaginário que real -, se houve esse tipo de medo, houve, também, um razoável nível de autodomínio e auto-controle. Exteriormente aparentavam certa serenidade e autodomínio.
Afinal, em poucos dias alguns passaram pela experiência da noite escura dos místicos, a noite dos sentidos ou noite do espírito. A noite dos sentidos: uns não encontravam prazer físico em nada que o corpo saudável oferece, o prazer do olfato, do comer e beber, sentir o ar e o perfume das plantas, o contemplar os horizontes, os movimentos sensórios motores, o doce repouso. Alimentavam-se não pelo prazer sensual da comida e do comer, mas levados pela razão ou pela força do hábito; não pelo gosto. A noite do espírito: não encontrar mais sentido em nada. Se a morte vem, e ela está apenas adiada por momentos ou dias, que sentido tiveram meus sacrifícios, preces, disciplina pelo estudo, a busca do saber, o empenho pelas virtudes, até mesmo, meu próprio viver, minha existência? Para que serviu tudo isto? Se tudo conduz ao nada? Afinal, sou simplesmente “pó e cinza”. É a noite escura.
Outra questão sobre a qual não nos demoramos, nem conjecturamos hipóteses possíveis a respeito: ‘como este ‘bicho terrível’ veio hospedar-se em nossos organismos e instalar-se em nossa fraternidade? quem de nós trouxe este famoso personagem para dentro de nossa casa e compartilhou-o com os outros?’
No final de novembro os sintomas desapareceram.
No dia 05 de dezembro, com exceção de Frei José que estava em Belo Horizonte, formos todos a um laboratório e fizemos a coleta de sangue para o teste rápido IGG para aferir a taxa de anticorpos frente à Covid.
O resultado veio pela internet alguns dias depois e foi positivo. Todos, em níveis diferentes, estavam imunes a uma nova infecção pelo mesmo vírus. A referência é que igual ou superior a 1.10 estava imune. O surpreendente, até para profissionais da saúde é que quem mais sofreu os efeitos do novo coronavirus seu organismo desenvolveu mais anticorpos.
Referência: “Coronavirus 2019 – Anticorpos IGG Covid 19. Valor de referência: Negativo – inferior a 0,80; Indeterminado – de 0,80 a 1,09; Positivo – superior ou igual a 1.10”
Resultados nominais:
Frei Keven . . . . . . IGG 2,71
Frei Márcio . . . . . IGG 5,...
Frei Basílio . . . . . IGG 8,35
Frei Diogo . . . . . IGG 8,...
Frei Cândido . . . . IGG 8,...
Frei Isaque . . . . . IGG 8,...
Frei Jaime . . . . . . IGG 48,26 (! ! !, 1,10 era suficiente.)
Conclusão final: estamos todos imunes à infecção da Covid 19.
Mas, atenção! Estamos imunes à variável do vírus com o qual estivemos em contato. Há outras variações desse agente infeccioso que surgiu para o mundo na cidade Wuhan, na China, em dezembro de 2019.
Observação:
“O novo Coronavírus, Sars-Cov-2, foi descoberto em Wuhan, cidade chinesa com 11 milhões de habitantes, em dezembro de 2019, por conta de uma série de casos de pneumonia com origem desconhecida. Depois de algumas pesquisas, foi descoberta a COVID-19, doença causada pelo novo Coronavírus.” (Google)
Cronista: Frei Basílio de Resende ofm
E-mail: freibasilioofm@hotmail.com
Blog: freibasilioderesende.org
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