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A MÁQUINA DO MUNDO de Carlos Drummond de Andrade - o melhor poema brasileiro de todos os tempos.

  • Foto do escritor: Frei Basílio de Resende ofm
    Frei Basílio de Resende ofm
  • 16 de fev. de 2021
  • 11 min de leitura

Este poema é considerado, por um grupo significativo de escritores e críticos, como o melhor poema brasileiro de todos os tempos.


A Máquina do Mundo


E como eu palmilhasse vagamente uma estrada de Minas, pedregosa, e no fecho da tarde um sino rouco se misturasse ao som de meus sapatos que era pausado e seco; e aves pairassem no céu de chumbo, e suas formas pretas lentamente se fossem diluindo na escuridão maior, vinda dos montes e de meu próprio ser desenganado, a máquina do mundo se entreabriu para quem de a romper já se esquivava e só de o ter pensado se carpia. Abriu-se majestosa e circunspecta, sem emitir um som que fosse impuro nem um clarão maior que o tolerável pelas pupilas gastas na inspeção contínua e dolorosa do deserto, e pela mente exausta de mentar toda uma realidade que transcende a própria imagem sua debuxada no rosto do mistério, nos abismos. Abriu-se em calma pura, e convidando quantos sentidos e intuições restavam a quem de os ter usado os já perdera e nem desejaria recobrá-los, se em vão e para sempre repetimos os mesmos sem roteiro tristes périplos, convidando-os a todos, em coorte, a se aplicarem sobre o pasto inédito da natureza mítica das coisas, assim me disse, embora voz alguma ou sopro ou eco ou simples percussão atestasse que alguém, sobre a montanha, a outro alguém, noturno e miserável, em colóquio se estava dirigindo: “O que procuraste em ti ou fora de teu ser restrito e nunca se mostrou, mesmo afetando dar-se ou se rendendo, e a cada instante mais se retraindo, olha, repara, ausculta: essa riqueza sobrante a toda pérola, essa ciência sublime e formidável, mas hermética, essa total explicação da vida, esse nexo primeiro e singular, que nem concebes mais, pois tão esquivo se revelou ante a pesquisa ardente em que te consumiste… vê, contempla, abre teu peito para agasalhá-lo.” As mais soberbas pontes e edifícios, o que nas oficinas se elabora, o que pensado foi e logo atinge distância superior ao pensamento, os recursos da terra dominados, e as paixões e os impulsos e os tormentos e tudo que define o ser terrestre ou se prolonga até nos animais e chega às plantas para se embeber no sono rancoroso dos minérios, dá volta ao mundo e torna a se engolfar, na estranha ordem geométrica de tudo, e o absurdo original e seus enigmas, suas verdades altas mais que todos monumentos erguidos à verdade: e a memória dos deuses, e o solene sentimento de morte, que floresce no caule da existência mais gloriosa, tudo se apresentou nesse relance e me chamou para seu reino augusto, afinal submetido à vista humana. Mas, como eu relutasse em responder a tal apelo assim maravilhoso, pois a fé se abrandara, e mesmo o anseio, a esperança mais mínima — esse anelo de ver desvanecida a treva espessa que entre os raios do sol inda se filtra; como defuntas crenças convocadas presto e fremente não se produzissem a de novo tingir a neutra face que vou pelos caminhos demonstrando, e como se outro ser, não mais aquele habitante de mim há tantos anos, passasse a comandar minha vontade que, já de si volúvel, se cerrava semelhante a essas flores reticentes em si mesmas abertas e fechadas; como se um dom tardio já não fora apetecível, antes despiciendo, baixei os olhos, incurioso, lasso, desdenhando colher a coisa oferta que se abria gratuita a meu engenho. A treva mais estrita já pousara sobre a estrada de Minas, pedregosa, e a máquina do mundo, repelida, se foi miudamente recompondo, enquanto eu, avaliando o que perdera, seguia vagaroso, de mãos pensas.


(“Claro Enigma” Livraria José Olímpio Editora, 1951)



De Afonso Romano de Sant’Anna:


“E é lá pelas tantas que surge o que chamamos de uma das grandes epifanias na sua obra, ou uma das grandes epifanias da literatura ocidental, que é o poema chama “Máquina do mundo”. Esse poema tem sido analisado de uma maneira muito precária pela crítica de ontem e mesmo por uma crítica desatenta de hoje, que não quer perceber o sentido mais profundo de seu texto, detendo-se apenas nas questões estilísticas e nas relações temáticas da “máquina do mundo” com Camões e outros autores.


Quando eu o tomei para análise pela primeira vez, há mais de 30 anos, até me surpreendi que as pessoas continuassem a analisar Drummond sem perceber-lhe uma outra dimensão, que é a dimensão metafísica de sua poesia, que está na raiz da ideia do projectum e que resgata o que “Máquina do mundo”, por exemplo, tem de singular.


Não se pode ler “Máquina do mundo” sem se entender aquilo que anteriormente coloquei como algo estruturante de sua poesia, ou seja, entre o Eu maior que o Mundo, o Eu menor que o Mundo e o Eu igual ao Mundo. Mais ainda: esse poema é o lugar na obra dele onde fica confirmado ou reafirmado que o poeta pode comportar-se como um pensador de alto gabarito, mesmo sem formular nenhuma teoria filosófica explícita. Ou seja: a postura do personagem gauche diante da “verdade” (da verdade que a “máquina” lhe oferece) ilustra uma questão transcendental na filosofia.

Essa máquina misteriosa que surge dentro e fora dele, que lhe oferece a solução de todos os enigmas, possibilita-nos rever a questão metafísica da “aparência” e da “essência”, essa coisa que uma filosofia recente, no final do século XX, sobretudo na França, tentou desmoralizar, desconstruir, embaralhando-se nos próprios conceitos artificiosos que criou.


Como não temos aqui tempo para uma exposição dessa questão, que pode ser melhor explicitada na Introdução à metafísica de Heidegger, nos limitaremos às seguintes observações. Se o personagem gauche tivesse aceito o que a máquina lhe ofereceu como resposta às suas perquirições, indagações, à sua busca, às suas perguntas, teria perdido o sentido das coisas por inteiro porque teria ficado apenas com uma parcela de sentido. Mas, ao recusar o sentido da verdade que a máquina lhe oferece, ele sabe que a vida e a poesia são um ato de busca inesgotável e interminável. Deter-se diante de uma “aparência” de verdade, como nela se mostra em seu brilho retórico ou na presentificação fascinante de uma cena, é perder a verdade por inteiro, porque como dizia Sócrates, a verdade não está com os homens, mas entre os homens. Ou seja, ela é algo móvel, em movimento, em construção. Nunca algo estático, que cabe num pacote, numa amostragem única, num simples aparecimento.


Então, ele, que estava caminhando numa estrada de Minas no crepúsculo, depois da radiosa apresentação da máquina que se recolhe, continua caminhando de mãos pensas por essa estrada, que é a estrada da linguagem e da poesia. A verdade se constrói e se destrói, como as casas, os edifícios, o corpo e o amor. E ela se refaz continuamente como a vida e a poesia. A verdade é uma verdade-em-progresso, progresso que não é linear, que pode ser elíptico como é a descrição metafísica das grandes obras barrocas.


Sem uma leitura portanto mais metafísica (e eu me debruço sobre essa questão na parte final do livro), não se entenderá a questão da epifania, que é uma questão fundamental para se estudar vários autores, seja Joyce, seja Drummond, seja Clarice.”


(“Por que a Peripécia do Poeta “Gauche” nos Comove?”, Afonso Romano de Sant’Anna, in “Murilo, Cecília e Drummond – 100 anos com Deus na poesia brasileira”, Eliana Yunes e Maria Clara L. Bingemer – orgs. Edições Loyola, São Paulo, 2004, p. 27-28, grifos de frei basílio)


A máquina do mundo — o que tem a nos dizer o maior poema brasileiro de todos os tempos


Sep 9, 2019 · 8 min read


O poema A MÁQUINA DO MUNDO, de Carlos Drummond de Andrade, foi escolhido como o melhor poema brasileiro de todos os tempos por um grupo significativo de escritores e críticos (e também na minha humilde opinião), a pedido do caderno “MAIS” [1], publicado aos domingos pelo jornal “Folha de São Paulo”. Publicado originalmente no livro “Claro Enigma” [2].



Drummond já se preocupava com o futuro desse país e do mundo há décadas

Da pra se dizer que este poema tem conexão direta com Os Lusíadas, de Camões. E não só pelo tamanho — o termo máquina do mundo também aparece nos versos de Camões. A máquina do mundo é um termo usado para representar, de forma alegórica, o sistema como o mundo funciona, e é sobre isso que o autor versa. Ainda em comparação aos clássicos, lembra também A Divina Comédia, onde Drummond faz uma jornada como a de Dante — menos esotérica e mais cética, com um pé na realidade, como é característico do poeta. Os versos decassílabos bem construídos, uma reverência ao clássico não tão comum aos modernos, promove uma reflexão sobre o homem e a linguagem e, principalmente, ao seu tempo, e a intertextualidade do poema é o ponto alto do seu entendimento.


E como eu palmilhasse vagamente uma estrada de Minas, pedregosa, e no fecho da tarde um sino rouco


se misturasse ao som de meus sapatos que era pausado e seco; e aves pairassem no céu de chumbo, e suas formas pretas


lentamente se fossem diluindo na escuridão maior, vinda dos montes e de meu próprio ser desenganado,


Drummond usa uma ótica inteiramente pessoal para mostrar como ele enxerga o funcionamento do universo. E o início é turvo e um verdadeiro enigma, o começo do poema é inerentemente pesado: as coisas acontecem devagar (o andar vagaroso, as aves pairando), duro (a estrada pedregosa), atônito (sino rouco, passos secos) e triste (céu plúmbeo, eu lírico desenganado) e quase sem futuro (escuridão maior vindo dos montes).


a máquina do mundo se entreabriu para quem de a romper já se esquivava e só de o ter pensado se carpia.


A vida não está fácil, reconhecer a realidade como ela é, sempre foi um golpe muito duro para qualquer ser humano, uma referência a quem se livra da fatídica caverna de Platão. Mas de repente o enigma se revela, o poeta começa a vislumbrar e ter epifanias sobre o que está diante dele.


Abriu-se majestosa e circunspecta, sem emitir um som que fosse impuro nem um clarão maior que o tolerável


pelas pupilas gastas na inspeção contínua e dolorosa do deserto, e pela mente exausta de mentar


toda uma realidade que transcende a própria imagem sua debuxada no rosto do mistério, nos abismos.


A máquina do mundo se revela majestosa, quase mítica, maravilhosa, em contraste com o próprio eu lírico que encontra-se decadente (pupila gasta, mente exausta). O mundo real aparenta cada vez mais árido (inspeção contínua e dolorosa no deserto), a visão dessa máquina do mundo acaba sendo um oásis nesse deserto, uma verdadeira epifania.


E, de repente, chega a escolha entre realidade e o mítico


Abriu-se em calma pura, e convidando quantos sentidos e intuições restavam a quem de os ter usado os já perdera


e nem desejaria recobrá-los, se em vão e para sempre repetimos os mesmos sem roteiro tristes périplos,


convidando-os a todos, em coorte, a se aplicarem sobre o pasto inédito da natureza mítica das coisas,


assim me disse, embora voz alguma ou sopro ou eco ou simples percussão atestasse que alguém, sobre a montanha,


a outro alguém, noturno e miserável, em colóquio se estava dirigindo: “O que procuraste em ti ou fora de


teu ser restrito e nunca se mostrou, mesmo afetando dar-se ou se rendendo, e a cada instante mais se retraindo,


olha, repara, ausculta: essa riqueza sobrante a toda pérola, essa ciência sublime e formidável, mas hermética,


essa total explicação da vida, esse nexo primeiro e singular, que nem concebes mais, pois tão esquivo


se revelou ante a pesquisa ardente em que te consumiste… vê, contempla, abre teu peito para agasalhá-lo.”


Em um segundo momento, a máquina do mundo abre-se de novo. Existe aqui, novamente, a luta da realidade do eu lírico em relação à revelação mítica, mas nesse momento há o discurso da máquina do mundo em tentar persuadi-lo a aceitá-la do jeito que ela é: (i) primeiro um pedido para o próprio poeta se revelar, deixar de ser hermético, como a própria máquina o fez — os seus sentimentos precisam se abrir para o mundo; (ii) interagir com o mundo de maneira sinestésica, sentir, olhar, reparar, auscultar as pessoas — precisamos ser abertos e empático para com os outros, e confiar nos nossos sentidos e emoções; (iii) a máquina sustenta sua posição de ente mítico (“natureza mítica das coisas”) e a necessidade de absorvê-la como parte para descoberta do enigma do mundo (“abre teu peito para agasalhá-lo”).


Esses trechos me lembram os discursos de Sócrates sobre o combate à ignorância ou, na verdade, do combate à amathia (“falta de sabedoria”). Para Sócrates, a revelação do mundo era necessário para afastar as pessoas do seu pior lado — de uma certa forma, o conhecimento da máquina do mundo, na visão de Sócrates, está ligado diretamente à criação de empatia para com outras pessoas e o próprio mundo. O vídeo do Ludoviajante, a seguir, retrata muito bem essa sensação da abertura da máquina — e o que a falta dela trás na nossa realidade atual (é um vídeo longo, mas é didático e vale cada minuto):


As mais soberbas pontes e edifícios, o que nas oficinas se elabora, o que pensado foi e logo atinge


distância superior ao pensamento, os recursos da terra dominados, e as paixões e os impulsos e os tormentos


e tudo que define o ser terrestre ou se prolonga até nos animais e chega às plantas para se embeber


no sono rancoroso dos minérios, dá volta ao mundo e torna a se engolfar, na estranha ordem geométrica de tudo,


e o absurdo original e seus enigmas, suas verdades altas mais que todos monumentos erguidos à verdade:


e a memória dos deuses, e o solene sentimento de morte, que floresce no caule da existência mais gloriosa,


tudo se apresentou nesse relance e me chamou para seu reino augusto, afinal submetido à vista humana.


Entretanto, o poeta se prende à sua racionalidade. Pensa as coisas como elas entendem que elas são. Acredita nas coisas que são arquitetadas (“que nas oficinas se elabora”), que são palpáveis (animais, plantas, minérios) e nas conexões e ciclos que existem entre eles. Entende que existem as ordens estranhas e os absurdos originais, mas que não passam de enigmas que há de convergir à luz da verdade, à vista humana. Esses versos, marca a primeira recusa do poema ao desvendamento da máquina do mundo, seu distanciamento e dificultando em aceitar a revelação que se sucedera nos versos anteriores.


A visão cética do autor, quase utilitarista, me lembra a música “Semáforo”, da banda de folk indie brasileira Vanguart (uma das minhas preferidas — vale a pena curtir esse som), em que a banda afirma só acreditar em coisas funcionais, como o Semáforo — uma visão praticamente agnóstica do mundo.


Mas, como eu relutasse em responder a tal apelo assim maravilhoso, pois a fé se abrandara, e mesmo o anseio,


a esperança mais mínima — esse anelo de ver desvanecida a treva espessa que entre os raios do sol inda se filtra;


como defuntas crenças convocadas presto e fremente não se produzissem a de novo tingir a neutra face


que vou pelos caminhos demonstrando, e como se outro ser, não mais aquele habitante de mim há tantos anos,


passasse a comandar minha vontade que, já de si volúvel, se cerrava semelhante a essas flores reticentes


em si mesmas abertas e fechadas; como se um dom tardio já não fora apetecível, antes despiciendo,


baixei os olhos, incurioso, lasso, desdenhando colher a coisa oferta que se abria gratuita a meu engenho.


A treva mais estrita já pousara sobre a estrada de Minas, pedregosa, e a máquina do mundo, repelida,


se foi miudamente recompondo, enquanto eu, avaliando o que perdera, seguia vagaroso, de mãos pensas.


Os versos mostram a perda gradual da fé do poeta, mesmo em face de algo maravilhoso, a própria esperança já está melindrada e filtrada nas experiências passadas.


Finalmente, com o fechamento da Máquina, atinge-se o círculo perfeito: as primeiras estrofes são retomadas (volta-se a estrada pedregosa de Minas), o eu readquire sua aura negativa e tudo volta a ficar como antes. O poeta segue vagaroso, “de mãos pensas”. Em “A Máquina do Mundo”, o poema, Drummond nos apresenta uma visão mítica, mas ao mesmo tempo realística, do mundo e dos seres que o habitam. No fundo, o poema é uma grande reflexão do poeta com ele mesmo, sobre suas crenças, suas dores e como ele deve lidar com o mundo que o rodeia: abrir-se-á completamente às pessoas, à empatia e ao lado esotérico dos seres, ou voltará a se fechar e a acreditar nas coisas apenas pela sua utilidade e versão racional de ser? Não existiria um meio termo que não fossem as pedregosas estradas de Minas Gerais? O homem, desafiante do destino, avança e recua diante do “mistério”, nunca sendo indiferente a este.


Na busca por entender o mundo, o ser pode escolher diversos caminhos, dentre eles: (i) o caminho da empatia, de interação com as pessoas e difundir entre elas suas crenças e culturas; (ii) o caminho sinestésico de conhecer o mundo pelos sentidos e descobrir pelas suas próprias experiências; (iii) fechar-se completamente para novas ideias, se envolver em sua própria treva e acreditar fidedignamente de que a ignorância é um caminho possível (amathia é o único mal — como já dizia Sócrates). Este terceiro caminho, infelizmente, tem sido o mais recorrente de todos nos últimos tempos, e temos sentido na pele as consequências disto. Procuremos nos esforçar para seguir outros caminhos, estes ou melhores que estes, e tentar trazer um pouco de luz e menos pedras para o caminho dessas pessoas, afinal conhecimento é o único bem. E viva a poesia de Drummond.



Referências e Recomendações de Leitura

[1] Mais!. “‘A Máquina do Mundo’, de Carlos Drummond de Andrade, é eleito o melhor poema brasileiro de todos os tempos”. Folha de São Paulo. 2000. [2] Carlos Drummond de Andrade. “Máquina do Mundo”. Claro Enigma, Livraria José Olýmpio Editora, 1951



 
 
 

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1 Comment


Tiffany Leite
Tiffany Leite
Oct 01, 2021

Belíssimo poema!

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