AS TENTAÇÕES DE JESUS E NOSSAS - I Domigo da Quaresma, Ano C
- Frei Basílio de Resende ofm
- 13 de mar.
- 4 min de leitura
PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESA, ANO C.
Lc 4,1-14
QUARESMA: TEMPO DE VITÓRIA...
O texto grego de Lucas fala de “Diabo” (Diábolos: aquele que separa, divide, desune).
Mas, atenção!
Essa “Potência do Mal”, que os evangelhos chamam, também, de “demônio” e “Satan” (termo hebreu que significa “o adversário”), não são estes diabinhos chifrudos com uma forquilha que as imagens representam; mas, sim, esse mal que habita o nosso próprio coração e esse inimigo de nosso encontro com Deus.
O relato que nós lemos, hoje, é uma página teológica, admiravelmente construída, que nos dá uma síntese dos combates e escolhas, nos quais o povo de Israel falhou, no deserto, e nos quais Jesus foi vitorioso, e os quais cada um de nós devemos enfrentar, sem cessar.
A Quaresma é o tempo privilegiado para esse combate espiritual.
Vejamos toda a atualidade dessas tentações permanentes, traduzindo-as para uma linguagem de hoje.
PRIMEIRA TENTAÇÃO: O PÃO... SATISFAZER NOSSOS DESEJOS
Essa é a tentação mais banal: minha relação com as coisas. Possuir, comer, satisfazer meus instintos. Tudo isso é perfeitamente legítimo, mas deve ser disciplinado. Nossas fomes corporais podem nos dominar e fazer de nós seus escravos.
A primeira tentação, pode-se também imaginar que uma pessoa possa ir ao máximo de seus prazeres, pelo simples progresso das técnicas ou políticas: “que estas pedras se transformem em pão”. Como é tentador quando se tem fome, quando se acende o desejo, exacerbado pela publicidade. de se mergulhar num consumismo incessante.
Mas a verdadeira vida da pessoa está nisso?
“O homem não vive somente de pão”. E nem é essa a sua necessidade fundamental. Vamos nos satisfazer todas as nossas necessidades corporais até o ponto de nos “minguar” espiritualmente, e até mesmo corporalmente? Todas as indicações são convergentes, nós comemos demais... uma parte de nossas doenças veem de nossos excessos: nós as provocamos a nós mesmos, e a nossos descendentes!
Se, ao menos, a Quaresma pudesse nos incitar, no seguimento de Jesus, a nos alimentar um pouco mais do essencial: da Palavra de Deus, “a Escritura diz...”. Interroguemo-nos claramente: temos um Evangelho em nossa casa? O que conhecemos da Bíblia? Que decidamos, durante os quarenta dias daqui até a Páscoa, a ler cada dia uma passagem da Palavra de Deus! Reestabelecer o costume universal do jejum – os muçulmanos e todas as religiões o fazem bem – para disciplinar a nossa carne e nos entregar ainda mais à prece!
SEGUNDA TENTAÇÃO: O PODER... DOMINAR
Essa segunda tentação é muito mias grave. É a perversão de nossas relações com as pessoas. Só ver as outras pessoas pela relação a si mesmo. Dominar. Exercer o poder. Esmagar. Representar o seu papel de um pequeno tirano.
Até Jesus, ele mesmo, foi tentado de ser um “rei dos reinos da terra”, exercendo o poder segundo os costumes dos poderosos deste mundo, que “fazem pesar seu poder”.
Eis aqui, então, ainda hoje, essa terrível ânsia de dominar, com seu cortejo de oprimidos, de torturados, de submissos.
E são sempre os frágeis, os pequenos, os seres que não podem se defender – problema trágico da supressão dos fetos de crianças vivas -, que são vítimas dos fortes!
Como tratamos os desfavorecidos fisicamente ou intelectualmente? Nos nossos trabalhos, nas nossas escolas, nas nossas relações, nas nossas famílias? E como nos deixamos ser “dominados” pelas potências coletivas da informação e da publicidade? Não fazemos o jogo das sondagens de toda sorte que nos ditam nossa própria atitude de conformistas?
Se, ao menos, a Quaresma pudesse nos incitar a reencontrar a verdade de todas nossas outras relações, reencontrando o “dever de adoração”: “Tu te prostrarás somente diante de Deus, e é a Ele que adorarás”. Situar-se humildemente diante de Deus, é aprender ao mesmo tempo a servir humildemente aos outros, ao invés de os dominar.
TERCEIRA TENTAÇÃO: A MAGIA... COLOCAR DEUS A NOSSO SERVIÇO
É a mais grave de todas as tentações: a perversão de nossa relação com Deus. Colocar
Deus na posição de fazer o que nos agrada: “colocar Deus à prova”.
Exigir de Deus que nos faça ser bem-sucedidos, de nos evitar os aborrecimentos. “Se Deus existisse, isso poderia me ter acontecido?”
Suprema tentação: nos eleger em conselheiros de Deus, Lhe dizer o que Ele deverá fazer, coloca-Lo a nosso serviço: “Se Tu és Deus, faça isto.” “Eu rezei, e Tu não me ouviste... Tu não fizeste a minha vontade, portanto, Tu não existes...”.
A tentação de provocar Deus, de O “fazer obedecer” a nossos desejos.
Se, ao menos, esta Quaresma pudesse nos incitar a nos descentrar de nós mesmos, para nos voltar resolutamente para o “Totalmente Outro” para fazer Sua Vontade e não a nossa.
CONCLUSÃO
Sim, as tentações de Jesus são as nossas tentações – em nossas relações com as coisas, com as pessoas, com Deus -. Com Ele, a nossa Quaresma poderia ser um tempo maravilhoso de crescimento, do desenvolvimento do melhor de nós mesmos... uma verdadeira renovação de nossa vida filial e fraternal de batizados.
Como irei fazer deste tempo de Quaresma um tempo favorável? De prece? De penitência? De partilha? De reuniões paroquiais?
LES ENTETIENS DU DIMANCHE – ANNÉE C,
Noel Quesson, Droguet-Ardent, 1991, p. 43-46
(Trad. Frei Basílio de Resende ofm, 2025)
blog: freibasilioderesende.org
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