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NOSSA SEXUALIDADE HUMANA - II

  • Foto do escritor: Frei Basílio de Resende ofm
    Frei Basílio de Resende ofm
  • 6 de jan.
  • 17 min de leitura

Atualizado: 31 de jan.

Antes de publicar este texto, quis ouvir o parecer de Euler Carvalho Cruz, de Belo Horizonte: um engenheiro mecânico especialista mundial em turbinas hidroelétricas, inventor, escritor, poeta, ativista ambiental, ecologista, humanista e, sobretudo, um cristão.

Vejam o que recebi:

 

De: Euler <eulerccruz@gmail.com>Date: dom., 5 de jan. de 2025 às 12:03To: Basílio de resende <freibasilioderesendeofm@gmail.com>


Bom dia, Frei Basílio.


Acho que o texto ficou excelente, muito bom mesmo! Bem claro, equilibrado, informativo e inteligente.


A parte referente ao aborto está na medida justa: firme, lúcida e não exagerada, uma afirmação peremptória, como deve ser, sem precisar dar margem a argumentos e discussões: é assim e pronto!


Não tenho reparos a serem feitos quanto ao conteúdo.


Gostei muito da parte final, que aborda, de forma que poucas vezes ou nunca vi, a questão que muitos acham complicadíssima: as fantasias eróticas e sonhos, os orgasmos durante o sono, as excitações espontâneas, imaginações. Isso tem gerado muito sentimento de culpa e tem, ao longo da nossa história, provocado recriminações dos adultos, principalmente dos que têm maior orientação religiosa.


Lembro-me, na minha adolescência no interior, em colégio confessional católico, como os padres tratavam isso no confessionário conosco.


O vigário da cidade, então, era um aterrorizador.


Vindo de um frei, de um padre, essa visão humana e equilibrada, essas palavras simples e diretas terão forte efeito e poderão evitar muitos traumas, para muita gente: “São fenômenos frequentes; não devem preocupar, nem se deve perder tempo com essas fantasias”. O que eu ouvi, quando adolescente, é que eram obras do demônio, tentações terríveis que poderiam levar nossa alma para o inferno.


O trecho a seguir tem mesmo que ter um grande destaque:


“Uma coisa importante a considerar: Tudo o que aconteceu na história psico-afetivo-sexual de uma pessoa faz parte do caminho para a maturidade, para a formação de uma pessoa adulta, autoconsciente, autônoma e bem integrada. Existe uma lei da gradualidade do autodomínio, do autocontrole, tanto neste campo quanto em outros da pessoa e da vida.

O que é significativo e decisivo para a pessoa em formação e crescimento é a informação correta e o diálogo, em clima de confiança e amor, com uma outra pessoa. Há necessidade de uma compreensão do ser humano (homem ou mulher) como um corpo, uma alma, um espírito, um coração e uma mente em relação; uma antropologia integral, relacional e dialogal.”


Quanto à forma, fiz sugestões de pontuação, alguma correção ortográfica.


Sugiro tirar, ao máximo, as reticências. Fiz isso em alguns trechos. Sei que fazem parte do estilo de cada um. Por mim, prefiro o ponto final, sem dar margem à imaginação ou a “não ditos” que as reticências sugerem. Você pode retornar com elas, foi só um comentário meu.


Alterei um pouco o trecho sobre a união dos cromossomos X e Y, pois o achei meio confuso.


Envio em anexo o mesmo texto, um com marcas de revisão, para você ver mais facilmente o que e onde fiz alterações, e outro sem as marcas, para o caso de você não saber como aceitar (ou não aceitar) as revisões no Word.


Parabéns e muito obrigado por sua lucidez, coragem, inteligência e equilíbrio. Esse é um texto, assim como o da parte I, que deve ser lido e relido por todo mundo que queira crescer psicológica e espiritualmente.


Um forte abraço,


Léo

(5 de jan. 2025)



 III – GÊNESE E EVOLUÇÃO DA SEXUALIDADE NOS INDIVÍDUOS

 

Desde a nossa origem como indivíduos, somos marcados pela sexualidade.

 

Desde a concepção, desde a célula totipotente, o zigoto, no útero de nossas mães ou num tubo de ensaio, somos marcados pela sexualidade.

 

A biologia, a fisiologia e a genética nos esclarecem sobre o nosso estranho e secreto início, como indivíduos.


Uma curiosidade:

o organismo humano adulto possui em torno de 30 trilhões de células.

 

E, curiosamente, a menor célula do organismo humano é a célula reprodutiva masculina, o espermatozoide; e a maior, é célula reprodutiva feminina, o óvulo.

 

 Outra curiosidade: a cada emissão ejaculatória de um organismo masculino, emite em torno de 80 a 300 milhões de células germinativas, e só uma fecunda o óvulo; então, a cada concepção de um novo indivíduo humano aconteceu uma eleição e uma escolha entre milhões possíveis.

 

Uma reflexão teológica sobre a origem do ser humano: 
“O mistério do ser humano tem o seu fundamento no abismo obscuro da sua origem, imaginada como uma prodigiosa formação da criatura no ventre de uma mulher, onde, de poucas células vem a constituir-se um filho ou uma filha, humana, sem que a própria mãe saiba como isso nela aconteça (2Mc 7,22), porque naquele lugar secreto é Deus quem age (Jr 1,5; Sl 118/119, 73; Sl 138/139, 13-14; Jó 10,13). Essa origem é “imagem” de toda a parábola do ser humano, porque indica profeticamente que, nas complicadas vicissitudes dos seres humanos, está em obra uma potente realidade criadora, desconhecida de todos (Jo 1,31). É o devir, secreto e promissor, somente parcialmente intuído, da gestação da criatura, a ser a verdadeira realidade de todo indivíduo humano. O nascimento – como quando uma criança vem à luz pelo parto da mulher – é sempre uma revelação, uma visão inimaginável, uma desconcertante e consoladora descoberta; assim será para nós no término de nosso ser, “formados” e plasmados como novas criaturas, como filhos e filhas de Deus (2Cor 5,1-5). A Escritura diz, na verdade, que aquilo que nós somos, não foi ainda plenamente revelado (Cl 3,3-4)”.

(Em “O Que É O Homem? – um itinerário de antropologia bíblica”, Pontifícia comissão Bíblica, Edição CNBB, n 348, p.294-295, linguagem inclusiva por frei Basílio).

 

 

“A ontogênese repete a filogênese”. Cada pessoa humana começa como um ser vivo, unicelular, invisível a olho nu. Em questão de nove meses, esse ser unicelular evolui e se multiplica para formar células, estruturas e sistemas diferenciados: o sistema cardiovascular, a estrutura óssea, o cérebro, o sistema nervoso central e o periférico, o sistema respiratório, a pele e os pelos, os movimentos reflexos e os voluntários... Podemos acompanhar esse processo pelas fases da vida intrauterina da célula única inicial da concepção até os trilhões de células especializadas do recém-nascido: o ovo inicial, o embrião, o feto... É o milagre da vida! Interromper, em qualquer momento ou fase, esse processo iniciado é uma desobediência à vida, um desrespeito, uma violência, uma crueldade, uma desumanidade.

 

As células -  essas unidades básicas que formam os organismos vivos - possuem dentro delas umas estruturas denominadas cromossomos, que abrigam seu material genético; então, um cromossomo é uma molécula de DNA condensada portadora da informação genética herdada dos progenitores de cada espécie viva.

 

Cada espécie tem uma quantidade diferente de cromossomos.

 

Na espécie humana há 30 trilhões de células humanas que possuem, cada uma, 46 cromossomos, em pares.  São 23 pares de cromossomos, que somados dão os 46, dos quais, 23 são recebidos da mãe e 23 recebidos do pai. São 44 cromossomos autossômicos, encontrados em todas as células do corpo e que determinam as características comuns aos dois sexos; e 2 cromossomos sexuais, responsáveis pelas características próprias de cada sexo, sendo o ‘X’, feminino e o ‘Y’, masculino. Assim as mulheres apresentam os pares ‘XX’ e os homens, os pares ‘XY’. O óvulo da mãe sempre tem um cromossomo X (feminino), mas o espermatozoide pode ter tanto o cromossomo X (feminino) quanto o cromossomo Y (masculino). Então, o que determina o sexo do novo ser é o tipo de cromossomo presente no espermatozoide. Quando o óvulo é fertilizado, formando o embrião, os cromossomos se unem e, se formarem XY, concebem um menino, se formarem XX, concebem uma menina.


Logo  que nasce um novo ser, as primeiras perguntas são quanto à saúde da mãe e do bebê, e se é homem ou mulher. As próprias expressões ao anunciar o evento indicam a conotação sexual: “Nasceu um machão” ou “Chegou uma princesinha”.

 

 Um fenômeno difícil de compreender e explicar é o que, exatamente, causa e determina o caráter psicológico do novo indivíduo, a sua orientação sexual futura, seu caráter moral, sua conduta humana. Entre os possíveis fatores pode-se elencar:

 

- A hereditariedade, o equipamento genético, a formação química e hormonal...

- As teorias do trauma do parto ou de outros traumas...

-A aprendizagem, as vivências e experiências desde as mais remotas e arcaicas...

- O desejo dos pais...

- As expectativas dos outros, o papel social, comportamento induzido...

- O social, a influência cultural, as expectativas de papéis sociais...

- Os mandatos e as proibições parentais, sociais e culturais...

- Instintos, pulsões, estímulos positivos/negativos e respostas, programação, aprendizagens, percepções, interpretações, reflexões, autoconsciência, autoestima, projeção...

- Um sujeito que se autodetermina, desenvolve um senso de identidade própria, escolhe e cria sua liberdade, sua personalidade única em processo e em relações...

 

 

As fases do desenvolvimento humano: 

o físico, o cognitivo e o psicossocial (emocional, afetivo sexual...), o psicoespiritual.

 

De 0 a 2 anos – Fase oral, sensações orais -

                                   Nascimento – primeiro gemido e suspiro;

Fase marcada pela figura materna, relação dual;

                                   Fase confusional – perda, ganho, culpa;

Amamentação – uma função biológica e afetiva;

Introjeção;

Narcisismo primário;

Confiança básica x desconfiança básica (Erikson);

Inteligência sensório-motor (Piaget).

 

De 2 a 3 anos – Fase anal, sensações anais -

                                   Figura paterna;

A percepção da diferenciação anatômica;

Choque, angústia de perda, complexo de castração;

Vergonha;

Reter e soltar, percepção e controle dos esfíncteres;

Autonomia x vergonha e dúvida (Erikson);

Inteligência pré-operatória – dos 2 a 7 anos -(Piaget).

 

De 3 a 5 anos  – Fase fálica, Situação triangular, edipiana; idade lúdica -

O romance familiar;

Relação triangular;

Situação edipiana: Pai = Mãe: Ele/Ela;

Investimento libidinal afetivo;

Identificação com o modelo parental;

Sujeito desejante – objeto desejado – objeto proibidor;

A libido se bifurca numa corrente energética erótico-genital e numa corrente terno-afetiva;

A superação da fase dual da libido, para o estado triangular;

A proibição do incesto;

Idade lúdica: iniciativa x culpa (Erikson);

Inteligência pré-operatória (Piaget).


De 06 a 10 anos  - Fase da latência – Até o menino ou a menina perfeita (9- 10 anos)

Socialização (vizinhança, escola, comunidade);

Aprendizagem das tarefas de sua cultura;

Idade escolar: Atividade x Inferioridade (Erikson);

Inteligência operacional concreta (Piaget).

 

De 11 a 18 anos – Fase genital, Puberdade, Adolescência –

Puberdade (biológica), um corpo infantil se torna adulto;

Crise de Identidade x confusão de Identidade (Erikson);

Inteligência operacional formal – 12 anos em diante- (Piaget);

A crise de identidade social e cultural;

Genitalidade: busca de relações maduras, adultas, responsáveis;

Alteração de modelos de referência e de identificação;

Mudança de objetos de amor;

Aquisição de um ego forte, socializado;

Busca de uma cosmovisão;

Escala e hierarquia de valores.

 

De 19 a 30 anos – Fase da Juventude adulta -

Escolha de uma profissão e estado de vida: matrimônio, celibato, solteiro;

                                   Crise de Intimidade X Isolamento (Erikson);

Concepção de mundo e de vida, baseada numa crença refletida;

Descoberta do amor político, da amizade social, de cooperação na construção do mundo, visão crítica dos conflitos, tornar-se responsável pelo processo histórico.

 

De 30 a 65 anos – Idade adulta – Sexualidade adulta -

Sublimação da energia amorosa: amizade, amor, compromisso de vida, criação artística, pesquisa científica, luta pela evolução ética e espiritual;

Crise da Produtividade X Estagnação (Erik Erikson);

Intervenção social, ação política, criação cultural, científica, técnica, filosofia de vida;

Tronar-se responsável pela integridade da vida no Planeta, lutar pela dignidade dos indivíduos, por justiça social, pela paz justa entre indivíduos grupos etnias e nações, e pela reconciliação entre inimigos em guerra;

Sensibilizar e conscientizar pessoas, grupos e nações no sentido de trabalhar por construir e cuidar em vez de destruir e arrasar;

Ser uma pessoa do seu tempo: vivendo as alegrias, as expectativas, as angústias, as dores, as derrotas e os triunfos, as esperanças dos indivíduos, grupos, povos e nações do seu tempo; Contribuir para edificar um humanismo integral, uma civilização uma cultura da vida, do amor, do bem-estar para todos, sem exclusão alguma, para assim chegar à plena realização do ideal humano, de um homem ou mulher

 

De 65 ao fim natural – A fase da Velhice; atingir a meta de um ser sobrevivente -

Chegar à velhice já um ganho, uma vitória, uma superação;

                                   Crise da Integridade X Desespero (Erikson);

Idade da sabedoria e plena expressão de sua vida em relação, de sua sexualidade de um vovô ou uma vovó;

A pura ternura, compaixão e humor, sem resquício de domínio, posse, controle ou poder;

                                    Comunhão e solidão;

                                    Contemplação;

                                    Espera;

                                    Silêncio;

                                    Morte - último gemido e suspiro.

 

                                              
IV – ALGUMAS SITUAÇÕES OU INCIDENTES SIGNIFICATIVOS NO HISTÓRICO PSICO-AFETIVOSSEXUAL DO INDIVÍDUO

Na história das pessoas, existem alguns problemas e crises ou determinados fatos e situações que exigem atenção e cuidados quanto ao crescimento, amadurecimento e integração da personalidade humana. A pessoa em formação precisa ser compreendida em suas pesquisas, vivências, auto- percepções, em suas sensações, seus sentimentos, suas emoções e auto- avaliações... em relação ao próprio corpo, às relações com outras pessoas de sua idade ou não, ao seu desenvolvimento psicológico, afetivo e social.


a)      Autoerotismo ou masturbação -  Na primeira infância, é tão normal como chupar o dedinho ou se coçar; a criança vive sua inteligência sensório motora; e, às vezes, imita comportamentos que vê. Na puberdade e adolescência, a pessoa está descobrindo seu corpo em desenvolvimento e se explorando; às vezes, imaginando situações possíveis de sua vida adulta. Em ambas as situações, a pessoa precisa ser informada e educada com sensibilidade e atenção sobre a vida adulta, as relações reprodutoras, as relações afetivas, a amizade, o companheirismo, o namoro, o matrimônio, a vida solteira, o respeito pelo próprio corpo e o corpo das outras pessoas.


b)     Brincadeiras e jogos eróticos, sexuais -  Entre crianças da mesma idade, meninos ou meninas; é algo bastante frequente, imitando o que veem na vida ou na televisão ou o que imaginam... As tais brincadeiras de “troca-troca”, em que brincam trocando de papeis sexuais; brincar de “papai e mamãe”, brincar de “médico” em que tiram a roupa uns dos outros e observam (examinam) o corpo e os órgãos uns dos outros ou umas das outras...  São ensaios e imaginações das relações íntimas, sexuais... A atenção, sensibilidade e cuidados pedagógicos dos adultos responsáveis devem ter a mesma qualidade e discrição do item anterior. Os adultos de sua confiança devem educar as crianças a respeitarem o seu corpo e a respeitarem o corpo das outras pessoas... e serem informados que alguns jogos e brincadeiras íntimas são para os adultos, para os pais e mães, não para crianças.


c)      A criança ser usada como objeto erótico por um adulto: um crime! – (Pode ser por parte de alguém da própria família, por vizinhos, amigos da família ou por estranhos). - Infelizmente, esse fenômeno é mais frequente do que pensamos; e é desastroso para um desenvolvimento saudável da pessoa. A criança, se aceita ou busca esses contatos, ela o vivencia como afeto e estima, como contato e toques afetivos, nunca como expressão erótico-genital adulto; ela só vai sentir o trauma, quando for jovem adolescente e adulta, vai perceber que foi abusada, que foi usada, que foi desrespeitada em sua inocência. Mas, a maior parte das vezes, ela é violentada e abusada contra sua vontade e ameaçada se contar a alguém. E, então, a criança não sabe quando e a quem contar o que está acontecendo, e pedir ajuda e ser compreendida. E vive um desespero terrível!


d)      A primeira menstruação ou a primeira ejaculação - Tanto para a menina, como para o menino, são fenômenos naturais que surgem devido ao seu desenvolvimento orgânico, mas de forte impacto emocional. Em média, acontece entre os 11 até os 15 anos, há casos que podem acontecer aos 9 anos, ou aos 16 anos. Os adolescentes – elas ou eles -, precisam ser informados, de preferência por seus próprios pais e mães, ou por algum adulto de sua confiança e estima, da eventualidade deste evento e como se cuidarem. Tudo é bom, é puro, é belo; é sinal que seu organismo está amadurecendo e se preparando para gerar uma nova vida. Nas culturas tradicionais da África, é uma instituição cultural a “Iniciação”, na qual os adolescentes e as adolescentes são introduzidos à vida adulta e reprodutiva, às suas responsabilidades sociais, aos valores da sua cultura. Essa é uma idade, uma fase da vida, cheia de fantasias, receios, dúvidas, vergonhas, culpas, receios, medos etc., se os jovens de ambos os sexos não recebem uma boa informação, compreensão e formação, e não adquirem uma integrada escala de valores.


e)      Sonhos românticos ou eróticos – São fenômenos frequentes; não devem preocupar, nem se deve perder tempo com essas fantasias. O mundo real, o das relações humanas de convívio, de trabalhos, serviços, criatividades é que dá sentido e valor à pessoa, à vida,  às pessoas em crescimento...


f)       Polução noturna para os rapazes e experimentar orgasmos durante o sono para ambos os sexos, acompanhados de sonhos ou não – São vivências e fatos que podem acontecer, são normais; não se deve prestar atenção ou nem se ter preocupações de ordem moral ou de maturidade psicológica.


g)      Excitações espontâneas nos órgãos genitais – São fenômenos e reações naturais; não devem provocar preocupações. Essas reações veem e vão; são sinais de circulação sanguínea. São tão normais como salivação na boca, transpiração, secreção de suco gástrico, vontade de alimentação... Talvez possam ser efeitos, no organismo, de fantasias inconscientes...


h)      Fantasias eróticas, desejos de expressões de afeto, imaginações relacionadas com cenas de intimidades – Devem ser aceitos e acolhidos com serenidade, assim como as fantasias, os desejos e imaginações que acontecem sobre quaisquer outras áreas de interesses, ações e comportamentos humanos, como o trabalho, o trânsito, o esporte, a arte, a guerra, a religião etc. Talvez sejam provocados por privação de contato social normal.

 

Uma coisa importante a considerar: Tudo o que aconteceu na história psico-afetivo-sexual de uma pessoa faz parte do caminho para a maturidade, para a formação de uma pessoa adulta, autoconsciente, autônoma e bem integrada. Existe uma lei da gradualidade do autodomínio, do autocontrole, tanto neste campo quanto em outros da pessoa e da vida.

O que é significativo e decisivo para a pessoa em formação e crescimento é a informação correta e o diálogo, em clima de confiança e amor, com uma outra pessoa. Há necessidade de uma compreensão do ser humano (homem ou mulher) como um corpo, uma alma, um espírito, um coração e uma mente em relação; uma antropologia integral, relacional e dialogal.

Para concluir uma sugestão de leitura.


Uma reflexão sobre o ser humano, na Gaudium et Spes, n 9-10:


“9,3-4. Subjacente a todas estas exigências, esconde-se, porém, uma aspiração mais profunda e universal: as pessoas e os grupos anelam por uma vida plena e livre, digna dos seres humanos, pondo ao próprio serviço tudo quanto o mundo de hoje lhes pode proporcionar em tanta abundância. E as nações fazem esforços cada dia maiores por chegar a uma certa comunidade universal.

O mundo atual apresenta-se, assim, simultaneamente poderoso e débil, capaz do melhor e do pior, tendo patente diante de si o caminho da liberdade ou da servidão, do progresso ou da regressão, da fraternidade ou do ódio. E o ser humano torna-se consciente de que a ele compete dirigir as forças que suscitou, e que tanto o podem esmagar como servir. Por isso se interroga a si mesmo.10. Na verdade, os desequilíbrios de que sofre o mundo atual estão ligados com aquele desequilíbrio fundamental que se radica no coração das pessoas. Porque no íntimo do próprio ser humano muitos elementos se combatem. Enquanto, por uma parte, ele se experimenta, como criatura que é, multiplamente limitado, por outra sente-se ilimitado nos seus desejos, e chamado a uma vida superior. Atraído por muitas solicitações, vê-se obrigado a escolher entre elas e a renunciar a algumas. Mais ainda, fraco e pecador, faz muitas vezes aquilo que não quer e não realiza o que desejaria fazer (Rm 7,14-15). Sofre assim em si mesmo a divisão, da qual tantas e tão grandes discórdias se originam para a sociedade. Muitos, sem dúvida, que levam uma vida impregnada de materialismo prático, não podem ter uma clara percepção desta situação dramática; ou, oprimidos pela miséria, não lhe podem prestar atenção. Outros pensam encontrar a paz nas diversas interpretações da realidade que lhes são propostas. Alguns só do esforço humano esperam a verdadeira e plena libertação do gênero humano, e estão convencidos que o futuro império do ser humano sobre a terra satisfará todas as aspirações do seu coração. E não faltam os que, desesperando de poder encontrar um sentido para a vida, louvam a coragem daqueles que, julgando a existência humana vazia de qualquer significado, se esforçam por lhe conferir, por si mesmos, todo o seu valor. Todavia, perante a evolução atual do mundo, cada dia são mais numerosos os que põem ou sentem com nova acuidade as questões fundamentais: 


Que é o ser humano?

Qual o sentido da dor, do mal, e da morte, que, apesar do enorme progresso alcançado, continuam a existir?

Para que servem essas vitórias, ganhas a tão grande preço?

Que pode o ser humano dar à sociedade, e que coisas pode dela receber?

Que há para além desta vida terrena?


A Igreja, por sua parte, acredita que Jesus Cristo, morto e ressuscitado por todos (2Cor 5,15), oferece aos seres humanos pelo seu Espírito a luz e a força para poderem corresponder à sua altíssima vocação; nem foi dado aos seres humanos sob o céu outro nome, no qual devam ser salvos (At 4,12).


Acredita também que a chave, o centro e o fim de toda a história humana se encontram no seu Senhor e mestre. E afirma, além disso, que, subjacentes a todas as transformações, há muitas coisas que não mudam, cujo último fundamento é Cristo, o mesmo ontem, hoje, e para sempre (Hb 13,8). Quer, portanto, o Concílio, à luz de Cristo, imagem de Deus invisível e primogénito de toda a criação (Cl 1,15), dirigir-se a todos, para iluminar o mistério do ser humano e cooperar na solução das principais questões do nosso tempo.(GS 9-10)”. (Linguagem inclusiva e grifos de Frei Basílio)

 

Outra reflexão sobre a sexualidade autêntica, Familiaris Consortio, n.34:


“34. É sempre muito importante possuir uma reta concepção da ordem moral, dos seus valores e das suas normas: a importância aumenta quando se tornam mais numerosas e graves as dificuldades para as respeitar.

Exatamente porque revela e propõe o desígnio de Deus Criador, a ordem moral não pode ser algo de mortificante para o ser humano e de impessoal; pelo contrário, respondendo às exigências mais profundas da pessoa humana criada por Deus, põe-se ao serviço da sua plena humanidade, com o amor delicado e vinculante com o qual Deus mesmo inspira, sustenta e guia cada criatura para a felicidade.

Mas o ser humano, chamado a viver responsavelmente o plano sapiente e amoroso de Deus, é um ser histórico, que se constrói, dia a dia, com numerosas decisões livres: por isso ele conhece, ama e cumpre o bem moral segundo etapas de crescimento.

Também os cônjuges, no âmbito da vida moral, são chamados a um contínuo caminhar, sustentados pelo desejo sincero e operante de conhecer sempre melhor os valores que a lei divina guarda e promove, pela vontade reta e generosa de os encarnar nas suas decisões concretas. Eles, porém, não podem ver a lei só como puro ideal a conseguir no futuro, mas devem considerá-la como um mandato de Cristo de superar cuidadosamente as dificuldades. Por isso a chamada «lei da graduação» ou caminho gradual não pode identificar-se com a "graduação da lei", como se houvesse vários graus e várias formas de preceito na lei divina para pessoas em situações diversas. Todos os cônjuges são chamados, segundo o plano de Deus, à santidade no matrimônio e esta alta vocação realiza-se na medida em que a pessoa humana está em grau de responder ao mandato divino com espírito sereno, confiando na graça divina e na vontade própria» (João Paulo PP. II, Homilia para a conclusão do VI Sínodo dos Bispos, 25 de Outubro de 1980, 8). Na mesma linha a pedagogia da Igreja compreende que os cônjuges antes de tudo reconheçam claramente a doutrina da Humanae Vitae como normativa para o exercício da sexualidade e sinceramente se empenhem em pôr as condições necessárias para a observar.

Esta pedagogia, como sublinhou o Sínodo, compreende toda a vida conjugal. Por isso a obrigação de transmitir a vida deve integrar-se na missão global da totalidade da vida cristã, a qual, sem a cruz, não pode chegar à ressurreição. Em semelhante contexto compreende-se como não se possa suprimir da vida familiar o sacrifício, mas antes se deva aceitá-lo com o coração para que o amor conjugal se aprofunde e se torne fonte de alegria íntima.

Este caminho comum exige reflexão, informação, instrução idónea dos sacerdotes, dos religiosos e dos leigos que estão empenhados na pastoral familiar: todos eles poderão ajudar os cônjuges no itinerário humano e espiritual que comporta em si a consciência do pecado, o sincero empenho de observar a lei moral, o ministério da reconciliação. Deve também ser recordado como na intimidade conjugal estão implicadas as vontades das duas pessoas, chamadas a uma harmonia de mentalidade e comportamento: isto exige não pouca paciência, simpatia e tempo. 

De singular importância neste campo é a unidade dos juízos morais e pastorais dos sacerdotes: tal unidade deve cuidadosamente ser procurada e assegurada, para que os fiéis não tenham que sofrer problemas de consciência(Paulo PP. VI, Enc. Humanae vitae, 28).

O caminho dos cônjuges será, portanto, facilitado se, na estima da doutrina da Igreja e na confiança na graça de Cristo, ajudados e acompanhados pelos pastores e pela inteira comunidade eclesial, descobrirem e experimentarem o valor da libertação e da promoção do amor autêntico, que o Evangelho oferece e o mandamento do Senhor propõe. (FC 34)” (Linguagem inclusiva e grifos de Frei Basílio)


Agradeço à Patrícia Pereira Cruz e ao Euler Carvalho Cruz,

pelas sugestões quanto à redação, concisão e precisão do texto.

Frei Basílio de Resende ofm

Noviciado São Benedito, Montes Claros MG


 Indicações bibliográficas:

  • Sigmund Freud, o psicólogo da afetividade e teórico do psiquismo humano, “Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade” e outros;


  • Erik Erikson, “Infância e Sociedade” (Childhood and Society” (1950);


  • Donald Winnicott, teórico do desenvolvimento emocional;


  • Jean Piaget, o psicólogo da inteligência, “A Construção do Real

na Criança” Zahar, Rio, 1970. “A Formação do Símbolo  na Criança, jogo e sonho, imagem e representação”, Zahar, Rio, 1971. “A Evolução Intelectual da Adolescência à Vida Adulta”. Fac. De Educação, Porto Alegre, 1993.


  • A Bíblia toda, (especialmente, Sabedoria, cap 7; Ezequiel, cap 16; Eclesiástico ou Sirácida, cap 17) 

 

 

 
 
 

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