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NOSSA SEXUALIDADE HUMANA - I

  • Foto do escritor: Frei Basílio de Resende ofm
    Frei Basílio de Resende ofm
  • 26 de nov. de 2024
  • 7 min de leitura

 

INTRODUÇÃO:    

Uma dinâmica de auto percepção e auto exploração feita com rapazes candidatos â vida religiosa franciscana, no Postulantado da  Cruz de São Damião, em São João Del Rei, em 2004. (Posteriormente foi elaborado para ser utilizado por rapazes e moças)



A sexualidade humana, o fato de sermos sexuados, é uma condição profundamente humana. A corporeidade e sua sexualidade nos marcam e distinguem, desde o berço ao túmulo. E esse é um desafio constante, o processo de tornar-se uma pessoa individual e assumir uma identidade de gênero.

 

A sexualidade é algo de natureza relacional e dinâmica. É, ao mesmo tempo, uma realidade no nível corporal, biológico (psico-fisiológico), emocional e afetivo (psico-social), racional, cultural, ético, espiritual (psico-espiritual).


- Auto-exploração

1. Como me sinto, e como vivencio o meu ser sexuado (masculino ou feminino) em todos os seus aspectos, dimensões e níveis (:fisiológico, psicológico/sentimental, afetivo, emocional, cultural, ético-moral, espiritual, místico, etc)?

2. Como me sinto e vivencio o meu ser sexuado (masculino ou feminino) diante de pessoas do outro sexo?


Uma resposta:

1.      Sinto-me bem, muito bem, diante do meu ser sexuado. Gosto de mim e do meu gênero. Gosto desta diferenciação, em todos os níveis, da criação de Deus, homem-mulher, masculino-feminino.

Sinto e vivencio a sexualidade como o maior dom do Criador: esta dinâmica desejado-desejante de encontros humanos, de relacionamentos...

Desejei e aprendi, - desejo e aprendo sempre de novo, - a disciplinar o corpo e seus impulsos eróticos, os afetos – simpatias e antipatias, atrações e rejeições -, para que, dentro da cultura dos valores éticos introjetados, eu possa ser uma pessoa aberta a toda outra pessoa e cultura, com o prazer de viver e de conviver.

Biologicamente – gosto de ser, de viver e de conviver.

Eticamente – tudo é bom, e está a caminho de uma bondade e beleza mais plenificante e libertadora.

Espiritualmente – louvo e bendigo ao Criador por nos ter criado sexuados.

Sinto compaixão por pessoas – homens ou mulheres -  que não souberam ou não conseguiram superar o desafio, o enigma da sua condição sexuada.


2.      Sinto-me muito bem, diante de pessoas do outro sexo. As pessoas do outro sexo – desde crianças, adolescentes, jovens, adultas, idosas – são para mim a face mais cativante do ser humano. São a epifania do rosto feminino de Deus.

Há pessoas (mulheres) que despertam em mim um forte e poderoso apelo sexual (erótico-genital). Outras fazem brotar em mim profundos sentimentos de ternura, afeição, admiração.

São estímulos que me ajudam a ser melhor eu mesmo e a agradecer e louvar ao Criador, pela minha existência e pela existência de cada uma delas.

 

 

A NOSSA SEXUALIDADE HUMANA

- Uma provocação à reflexão de forma esquemática e sempre provisória -

 

 

I – TODOS NÓS HUMANOS, SOMOS SEXUADOS, RELACIONADOS

 

            O ser humano é seccionado: é masculino e feminino.

 

            Etimologicamente, a palavra “sexo”, vem do latim: “Secare”, que  significa, “cortar, dividir”. Particípio passado, “sectum”, em postuguês, “cortado, dividido”. Desse radical latino, derivam as palavras em português: “sessão, secção, sexo”.

 

            Os chineses têm o ícone gráfico, de “ying” e “yang” .

 

            Os gregos desenvolveram o mito do andrógino: um ser humano, único, uno, completo. Zeus o dividiu ao meio, criando o homem e a mulher.

 

            Conhecemos o mito bíblico da criação da mulher, feita de uma costela de Adão; o qual havia sido modelado do barro, que recebeu o sopro em suas narinas, o hálito da vida. Desse foi formado, modelado, o corpo da mulher: “osso de seus ossos, carne de sua carne” (Gn 2,23); isso quer dizer, um outro ser da sua mesma natureza e condição, em total igualdade de dignidade e valor.

 

            Falando do humano, é interessante lembrar aqui, a Fábula de Higino (Caio Júlio Higino), da mitologia latina, o Mito do Cuidado:

 

Certo dia, ao atravessar um rio, Cuidado viu um pedaço de barro. Logo teve uma ideia inspirada. Tomou um pouco de barro e começou a dar-lhe forma. Enquanto contemplava o que havia feito, apareceu Júpiter. Cuidado pediu-lhe que soprasse espírito nele. O que Júpiter fez de bom grado. Quando, porém, Cuidado quis dar um nome à criatura que havia moldado, Júpiter o proibiu. Exigiu que fosse imposto o seu nome. Enquanto Júpiter e o Cuidado discutiam, surgiu, de repente, a Terra. Quis também ela conferir o seu nome à criatura, pois fora feita de barro, material do corpo da terra. Originou-se então uma discussão generalizada. De comum acordo, pediram a Saturno que funcionasse como árbitro. Este tomou a seguinte decisão que pareceu justa:– Você, Júpiter, deu-lhe o espírito; receberá, pois, de volta este espírito por ocasião da morte dessa criatura. 

- Você, Terra, deu-lhe o corpo; receberá, portanto, também de volta o seu corpo quando essa criatura morrer. 

- Mas como você, Cuidado, foi quem, por primeiro, moldou a criatura, ficará sob seus cuidados enquanto ela viver. 

E uma vez que entre vocês há acalorada discussão acerca do nome, decido eu: esta criatura será chamada Homem, Humano, isto é, feita de húmus, que significa “terra fértil”.

 

Moral da história: o ser humano, - algo fértil, fecundo e criativo -, é um misto de terra, espírito e cuidado.

 

II – O SENTIDO HUMANO E CRISTÃO DA SEXUALIDADE

 

            Tudo é dom e tarefa, desafio e conquista, tudo é busca e procura de um ser pleno e integral, um ser humano pleno e completo: homem ou mulher, homem e mulher, homem com mulher, pessoa que deseja pessoa... encontrar, conviver, sentir juntos, consentir juntos, crescer, criar, compartilhar, cuidar, servir, dialogar, expandir, até o infinito de si com uma outra pessoa, com outras pessoas, com todas as pessoas - de qualquer gênero, raça, povo, nação, cultura, crença, religião, ideologia -,  com o universo inteiro, e com a absoluta Outra Pessoa...

 

            As primeiras narrativas bíblicas, usam poesias, metáforas, símbolos, imagens ricas para descrever as origens do mundo universo, o caos e o cosmos – a terra e os oceanos, os astros e estrelas, os vegetais e os seres vivos nas águas, nos ares, na terra, os dias, as noites, semanas, e, por fim, ser humano, homem e mulher, neste mundo, num jardim,

 

Deus disse: “Façamos um ser humano, à nossa imagem e segundo a nossa semelhança. Que ele domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todos os animais na terra e tudo que rasteja pela terra.

            E Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou,” (Gn 1,26-27).

 

(Afinal, esse plural, “Nós”, o sujeito da fala e da ação, um sujeito plural que fala e age e cria, É “O AMOR EM PESSOAS”; esse Nós, um sujeito plural criou, “à sua imagem e semelhança”, o SER HUMANO, O DESEJO DE AMAR E DE SER AMADO: “O AMOR ENTRE PESSOAS”.)

 

Então o Senhor Deus modelou, com o pó do solo, o homem e soprou-lhes nas narinas o sopro de vida; e o homem tornou-se um ser vivo.

O Senhor Deus plantou um jardim no Éden, no oriente, e pôs ali o homem que havia formado. E o Senhor Deus fez brotar do solo toda sorte de árvores agradáveis de aspecto e boas para delas comer, a árvore da vida no meio do jardim, e também a árvore do conhecimento do bem e do mal.

...

O Senhor Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só. Vou providenciar um auxílio que lhe corresponda”...E o homem deu nome a todos os animais domésticos, a todas as aves do céu e a todos os animais selvagens; mas não se encontrou para o homem um auxílio que lhe correspondesse. Então, o Senhor Deus fez vir um sono profundo sobre o homem, o qual adormeceu. Tomou um lado dele e fechou a carne no seu lugar. E do lado que tomara do homem, o Senhor Deus formou a mulher e a trouxe ao homem. Então o homem exclamou: “Desta vez, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, ela foi tirada do homem.”

Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne.

Ambos, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam.” (Gn 2,7-9.18-25)

 

Então, vemos que Deus criou não um indivíduo isolado, pleno, autossuficiente. Mas criou o homem e a mulher, companheiros, auxiliares, desejantes... “e eles se tornarão uma só carne”.

 

Vemos que Deus criou a relação, a complementariedade, o desejo de uma pessoa pela outra, o desejar e o ser desejado, como a graça de ser, de ser com, de inter-ser, interagir, dialogar; a graça de viver e de conviver.

Essa é a unidade completa do ser humano, um ser individual em relação com outro ser individual, com outros seres individuais, constituindo famílias, grupos, tribos, povos, nações.

 

Para compreender o humano, e especialmente o sentido cristão da sexualidade, vamos usar uma linguagem teológica: DEUS É VIDA, DEUS É GRAÇA e BELEZA, DEUS É AMOR e AMIZADE.

 

Deus criou o ser humano à sua imagem e semelhança.

 

a)      DEUS É VIDA – e a sexualidade em nós, humanos, é uma sede e uma fonte de vida.

 

É uma forte e poderosa atração vital entre pessoas, em todos os níveis de seu ser: no nível do corpo sensual, dos sentidos sensoriais e motores; no nível do psiquismo, dos sentimentos, emoções e afetos; no nível da alma racional, a inteligência, a vontade, a liberdade de escolha e opção; no nível  do espírito...

 

b)      DEUS É GRAÇA e BELEZA – e a sexualidade é esta sede e esta fonte de beleza que atrai, cativa, fascina, emociona...

 

Deus é Beleza, Bondade, Providência. E nós somos atraídos por todas as formas e expressões do belo, da beleza - do corpo humano, dos movimentos e expressões corporais, na ginástica artística, no ballet, na dança; - da fala e linguagem, da poesia, da música, da pintura, e de todas as formas de artes...

 

c)      DEUS É AMOR e AMIZADE – a sexualidade é, em nós, esta fonte e esta sede de amor e de amizade; é este desejo insaciável do ser humano em amar e ser amado.

 

A sexualidade em nós, humanos, é esta necessidade e desejo de amar e de ser amado; é o prazer de amar e de ser amado; este fenômeno de sentir-se apaixonado, uma loucura... É esta necessidade e desejo de conhecer e ser conhecido por uma pessoa, em particular, e pela multidão; uma busca de criar e manter relações harmoniosas, construtivas, libertadoras e integradoras, no nível do corpo, da alma, do espírito – de corações e mentes – entre pessoas, comunidades, tribos, povos e nações. A necessidade de estabelecer aliança, parceria e cooperação entre pessoas, povos, nações.

 

A sexualidade é paixão por viver e conviver, a alegria do encontro, a felicidade de construir amizade, amor. Deus é amor, é amizade, é aliança... Somos criados à sua imagem e semelhança. E fomos criados como pessoas humanas - num corpo, animado por uma alma, iluminado por um espírito, um coração e uma mente.

 

Não somos anjos; não fomos criados como pessoas angelicais, como seres puramente espirituais; não como espíritos puros, que são também pessoas em relação.


Continua

Frei Basílio de Resende ofm

Noviciado São Benedito

Montes Claros MG


 
 
 

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