DUAS MULHERES E O DESTINO ESPIRITUAL DA HUMANDADE: EVA E MARIA
- Frei Basílio de Resende ofm
- 10 de dez. de 2021
- 3 min de leitura
(Sabemos que esta linguagem não é científica.
É uma linguagem mítica, teológica, mistagógica.
As narrativas bíblicas, suas poesias, suas metáforas, as figuras usadas, visam iniciar e introduzir os seres humanos numa perspectiva mais profunda de sua realidade e existência; suscitar a fé, abrindo horizontes transcendentes.
A antropologia bíblica, considera os seres humanos - corpo, alma, espirito, coração e mente - como seres viventes, terrenos, mortais; desejados e criados por uma vontade amorosa e benevolente. e colocados neste mundo para cuidarem dele e construírem sua história; todos descendentes de ancestrais sábios, justos, bons; mas, também, ignorantes, injustos, maus; sonham e desejam uma felicidade infinita, temporal, sensorial, vegetal, psíquica, espiritual, e eterna; uns sentem-se como imagem e semelhança do seu Criador e Criador do Universo: o Senhor, "o Eu sou quem sou, o Eu conheço e sou conhecido, o Eu amo e sou amado"; outros não estão nem aí: 'vivem como o boi que come feno enquanto não vem o abate'; todos desejam ter uma descendência eterna e gloriosa.)
EVA E MARIA
"Quando o Senhor veio de modo visível ao que era seu, levado pela própria criação que ele sustenta, tomou sobre si, por sua obediência, na árvore da cruz, a desobediência cometida por meio da árvore do paraíso. A sedução de que foi vítima, miseravelmente, a mulher Eva, destinada ao primeiro homem, foi desfeita pela boa-nova da verdade, maravilhosamente anunciada pelo anjo à Mulher Maria, já desposada com um homem.
Assim como Eva foi seduzida pela conversa de um anjo e afastou-se de Deus, desobedecendo à sua palavra, Maria recebeu a boa-nova pela anunciação de outro anjo e mereceu trazer Deus em seu seio, obedecendo à sua palavra. Uma deixou-se seduzir de modo a desobedecer a Deus, a outra deixou-se persuadir a obedecer-lhe. Deste modo, a Mulher Maria tornou-se advogada da mulher Eva.
Por conseguinte, recapitulando em si todas as coisas, o Senhor declarou guerra contra o nosso inimigo. Atacou e venceu aquele que no princípio, em Adão, fez de todos nós seus prisioneiros; e esmagou sua cabeça, conforme estas palavras, ditas por Deus à serpente, que se lêem no Gênesis: Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça enquanto tu tentarás ferir o seu calcanhar (Gn 3,15).
Desde esse momento, pois, foi anunciado que a cabeça da serpente seria esmagada por aquele que, semelhante a Adão, devia nascer de uma mulher. É este o descendente de que fala o Apóstolo na sua Carta aos Gálatas: A lei foi estabelecida até que chegasse o descendente para quem a promessa fora feita (cf Gl 3,19).
Na mesma Carta, o Apóstolo se exprime ainda com mais clareza, ao dizer: Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher (Gl 4,4). O inimigo não teria sido vencido com justiça se o homem que o venceu não tivesse nascido de uma mulher, pois desde o princípio ele tinha se oposto ao homem, dominando-o por meio de uma mulher.
É por isso que o próprio Senhor declara ser o Filho do homem, recapitulando em si aquele primeiro homem a partir do qual foi modelada a mulher. E assim como pela derrota de um homem a gênero humano foi precipitado na morte, pela vitória de outro homem subimos novamente para a vida."
(Do Tratado contra as heresias, de Santo Irineu, bispo, sec II.
Segunda Leitura do Ofício das Leituras da sexta-feira, da segunda semana do Avento)
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