ELEIÇÕES 2022 - QUAL É A SUA POSIÇÃO? QUAL É A SUA POLÍTICA?
- Frei Basílio de Resende ofm
- 26 de out. de 2022
- 9 min de leitura
UMA RESPOSTA A UMA SOBRINHA
SOBRE O MOMENTO ELEITORAL EM QUE ESTAMOS
: SEGUNDO TURNO DE 2022
Minha querida sobrinha,
Eu lhe desejo a Paz! Que o Senhor lhe dê a Paz!
(a paz consigo mesma, com sua consciência ética e política, com seu projeto pessoal, familiar, comunitário e social)
Todos sabemos que a paz, é consequência de um modo de viver e de conviver. Ela é fruto de atitudes e de relações de justiça, de bondade, de verdade, de beleza, de amor, de sabedoria.
Você me perguntou sobre minha posição pessoal, como eleitor, no atual momento político eleitoral em que vivemos. Pediu desculpas por fazer essa pergunta, como se estivesse invadindo indevidamente a área de minha liberdade de consciência política. O que já indica que o terreno é, como que minado, como que perigoso: se eu digo que votarei num candidato, eu me coloco numa posição alvo de ser odiado e condenado pela opinião dos partidários do outro lado. Isso indica que o radicalismo, o fanatismo, a crença irracional, o uso e abuso do “nome de deus”, da “religião” e da "pátria" estão sendo generalizados.
1. Primeiro ponto:
- Não teremos “milagres”, após as eleições.
(Os problemas da saúde, alimentação, moradia, saneamento, educação, trabalho, economia, pobreza, desigualdade social gritante, ambiente, segurança, etc, continuarão com um presidente eleito ou outro; e o enfrentamento deles é um processo lento e demorado. E nenhum dos dois que se apresentam são “salvadores da pátria”. Não haverá nem ‘salvação’ nem ‘perdição’, com a vitória eleitoral de um e derrota do outro, e vice-versa).
- Assim como, não temos nenhum “messias”.
(Cada candidato, e a coligação de forças políticas, organizações e movimentos que os apoiam, infelizmente, muitos têm interesses particularistas de enriquecimento e poder de seu grupo, partido e familiares. Isso, observamos pelo passado recente dos dois.)
- E nem se trata de um embate e luta entre o ‘Bem’ contra o ‘Mal’
(A fronteira entre o bem e o mal não é espacial, geográfica ou ideológica. Há um risco de cairmos num maniqueísmo fanático e ignorante, julgando que ‘o bem’ está do meu lado, e ‘o mal’ está do lado dos que divergem de mim. A luta entre o bem e o mal, está dentro de mim, está no meu coração. Eu é quem tem que governar e ter sob meu controle ético e racional - o meu orgulho que despreza outros, minha ganância que só quer acumular, minha inveja que não tolera o sucesso de outros, minha ira que busca intimidar, minha gula voraz, minha luxúria que usa abusa e descarta e minha preguiça indolente - ; e isso seria o reinado do mal em meus projetos e minhas relações. Eu é quem tem de cultivar e desenvolver em mim comportamentos e atitudes que expressem minha humildade, minha justiça, minha bondade, minha paciência, minha temperança, minha castidade e fidelidade, minha operosidade; assim seria o reinado do bem em meus projetos e relações. Tudo isso, tanto na minha esfera interpessoal, familiar, comunitária, social, política, local, regional, nacional e global).
2. Segundo ponto: Minha posição nas eleições de 2018
(O que eu falei com sua mãe, e ela lhe disse)
Eu morava me Belo Horizonte, e meu domicílio eleitoral era em Santos Dumont, meu título eleitoral estava lá.
No 1º turno, votei em Ciro Gomes, por 2 razões: estava com um discurso político mais equilibrado, menos radical e hostil em relação aos outros concorrentes, e com mais probabilidade de chegar ao segundo turno.
No 2º, não votei, não fui a Santos Dumont, para votar. Considerando, individualmente, os dois candidatos de então, F. Haddd e J. Bolsonaro, o Haddad era intelectual e politicamente mais qualificado para o exercício da presidência; eu teria votado nele, com certa confiança e esperança política, se ele tivesse feito uma honesta autocrítica dos 14 anos do governo e administração do seu partido: os acertos, os desacertos, o que poderia ter sido feito e não foi, o que nunca deveria ter acontecido e aconteceu. Ele não se distanciou da ideologia da simples manutenção no poder das forças políticas que estavam com ele.
Deixei acontecer.
Um governante não precisa ser o mais sábio e mais competente. Ele precisa ter bom senso, ser honesto e bem-intencionado quanto ao bem comum de seu povo, e não apenas dos seus partidários e familiares; ele poderá nomear uma equipe de governo e de gestores públicos técnicos, competentes e éticos, e fazer um bom serviço; exigindo competência, eficácia e ética de todos.
No início de seu governo Bolsonaro, foi ao encontro dos 20 governantes das maiores economias do mundo, e ele deu uma resposta aos jornalistas que lhe perguntaram sobre o ‘escândalo das rachadinhas’ do deputado Flávio Bolsonaro, agora eleito senador. Gostei de sua resposta; ele disse : “Ele é adulto. Se for comprovado que ele cometeu um ilícito, ele responderá por isso.” Mas, essa fala foi só para o efeito de popularidade, porque ele usou seu poder de governante para interferir na Polícia e nas investigações para proteger o “seu garoto”. Ele não foi ético, como ‘arrota’ ser.
Outro episódio, foi quando um vice-ministro da Cidadania, como ministro interino, usou um avião da FAB para levá-lo à China, Bolsonaro o demitiu. Argumentaram que era um procedimento ‘legal’, i.é, há uma lei que permite isso. Ele respondeu: “É legal, mas é imoral”, i.é., é contra o bem público, um gasto desse; ele poderia ter ido à China por um avião de carreira, até com o status de diplomata. Mas, o político foi apenas remanejado.
Como vemos, essas declarações não manifestam uma filosofia de vida e de coerência ética, nem são expressões de uma conduta e uma postura de um presidente, de um estadista que cumpre a lei, ‘o que é direito e dever ser feito’, mesmo que ‘responsabilize’ um parente ou um correligionário.
3. Terceiro ponto: O atual momento político eleitoral que vivemos em 2022.
No momento eu não votaria nem num, nem outro, pelo que eles representam o que há de pior na administração pública, fazendo o mesmo que acusam os outros de terem feito. No primeiro turno, eu votei na Simone Tebet.
Todos mentem.
E cada um quer ‘demonizar e satanizar’ o outro; e se apresentar como o ‘santo e o bom e o perfeito’. Cada um apresenta na propaganda um cenário de felicidade e prosperidade geral, com ele presidente; e o contrário com o adversário.
E fazem isto com o dinheiro público: nós pagamos um preço elevadíssimo para eles mentirem para nós. Em 2018, a verba eleitoral era de R$ 1,7 bilhão. Agora aumentaram para R$ 4,9 bilhões. E remanejam esse dinheiro de serviços melhores ao povo, na educação, na saúde, e outros serviços.
Agora, creio que a vitória de um, não significa a felicidade geral para o país, que ele e seus apoiadores prometem; e nem seria uma calamidade para o país que os seus adversários imaginam e apregoam para intimidar o povo e induzi-lo a votar em si mesmos.
Creio que devemos ser lúcidos e não ser ingênuos diante da ambiguidade e complexidade do mundo político. Dos dois lados temos pessoas de bem, honestas, sinceras e trabalhadoras; essas muitas pessoas veem o que há de bom, de belo e verdadeiro para o nosso país no que seu candidato – apesar dele mesmo e de seu histórico recente ou remoto – simboliza e significa. Mas, também, dos dois lados há pessoas de intenções perversas, desonestas, mentirosas e que só visam tirar vantagens e se enriquecer injustamente; essas pessoas, que também não são poucas, têm como objetivo só o enriquecimento ilícito, o poder e o desfrute sem responsabilidade ética.
Então, na linguagem bíblica, não dá para separar o joio do trigo; os dois estão crescendo juntos (veja Mt 13, 24-30)
Agora, dentro de nossa própria família e rede de amizades, creio que é importante nós adotarmos um verdadeiro espírito democrático e ecumênico, e respeitarmos as opções feitas por familiares, amigos e amigas nossos para votar num candidato e apoiar as propostas de um partido oposto às nossas escolhas. Reconhecer que há coisas e propostas boas também por aquele partido ou candidato diferente do que eu acredito ser melhor.
Um bom e racional diálogo político deve começar no nosso pequeno grupo de influência e relações.
No momento eu votarei no Lula; ele já foi presidente, esteve preso; foi um tempo para ele pensar e viver a solidão, e fazer uma honesta revisão dos erros acertos de sua administração e alianças. Respeito as pessoas que acreditarem nas propostas do outro grupo, e avaliam que não acontecerão as desgraças institucionais e sociais que os adversários temem.
É preciso ter coragem, força, sabedoria. O que mais peço para mim, e para todos, do meu lado, ou do lado contrário, é o que diz o salmo 118 (119) 66: “Senhor, dá-me bom senso, retidão, sabedoria”.
4. Quarto ponto: Uma opinião simplista da conduta na política.
No momento da eleição, nós perigamos nos comportar como torcedores de um time de futebol, ou outro clube, e há sempre o envolvimento emocional ou irracional em nós; há ódio e amor: amor pelo meu time e ódio pelo rival. Eu digo que para o ‘orgasmo’ ser perfeito para um torcedor fanático, doente, não basta o seu time amado ganhar, é preciso que o rival odiado perca. Esse lado emocional, irracional, passional, pode nos contaminar na política: amo meu partido, meu candidato, e odeio o outro partido e seu candidato. No esporte, eu digo: “ganhará o melhor, o time que controlar melhor seus nervos e seus músculos”. Na política, há um fator de empatia com os eleitores, que os leva a confiar suas legítimas expectativas num candidato. Temos que aceitar o desempenho mais eficaz dos que vencerem.
Tanto no esporte, e mais ainda na política, - porque somos cidadãos, e o eleito será o presidente de todos os brasileiros, não só dos seus eleitores, partidários e de seus familiares – devemos controlar nossas emoções, respeitar as regras do jogo, acolher os resultados e agir como civilizados, educados e cristãos.
Quais são as motivações que apaixonam as pessoas pela política?
A vaidade, a sede de popularidade, a cobiça de poder e status, o interesse financeiro, o senso de retidão ética e de justiça social, a generosidade, o ideal de progresso, prosperidade e bem-estar para o povo?
Eu tenho observado na conduta dos políticos em geral e em particular nos que chegam à presidência da República que o pecado original de todos eles é a vaidade, muitas vezes associada a interesses financeiros e de poder para seus familiares.
Vamos considerar desde 1985 até agora
- José Sarnei, que apoiou o regime militar o tempo todo, ganhou de bandeja a presidência com a morte de Tancredo, em vez de convocar uma Assembleia Constituinte, convocou o Congresso Constituinte (os eternos políticos profissionais é que vão fazer as leis, e não põem limites aos seus interesses de aumentar salários, fundos partidários, fundo eleitoral e suas benesses); e por sua vaidade em ganhar as eleições para Governadores arruinou a reforma econômica e financeira do Cruzado; perdeu a economia que lhe tinha granjeado a popularidade e encerrou seu governo com quase 1.972,91% de inflação.
- Fernando Collor, elegeu-se batendo na corrupção e inflação do Governo Sarnei e na condição dos marajás; ganhou a eleição para ele ser o primeiro e único ‘marajá’.
- Fernando Henrique, deixou-se levar pela vaidade, e ‘aceitou’ a instituição da reeleição; numa sociedade em que a tradição de ética e correção na administração pública não a norma, os agentes políticos tomam posse e governam tendo em meta a sua reeleição.
- Lula, por vaidade e interesse de entrar no esquema de uso da máquina que ele sempre combateu na oposição, força o PT, a eleger o Sarnei para Presidente do Senado e faz aliança com o PMDB e os partidos fisiológicos; e fecha os olhos para o que os seus aliados faziam nas suas barbas, dizendo “eu não vi nada”... (Mensalão, Petrolão e outros)
5. Quinto ponto: Uma iluminação bíblica e do Magistério da Igreja.
Proponho que façam uma leitura de uns textos bíblicos:
Do Antigo Testamento: Uma alegoria da política Juízes: 9, 7-21; A oração por sabedoria para governar: 2Crônicas 1,5-13; Sabedoria 9,1-18;
Do Novo Testamento: A busca do poder e domínio ou o serviço por amor: Mc 10, 41-45; Lc 22,24-27; Mt 20, 24-28
Do Magistério da Igreja: Vejam todo o Capítulo V da Encíclica do Papa Francisco “Fratelli Tutti” – “A Melhor Política” nn 154-197. (Está no meu Blog: freibasilioderesende.org)
Uma coisa importante que não podemos perder de vista é que, antes de sermos partidários de uma ideologia política ou de um partido político, e de um candidato A ou B, nós somos humanos, cidadãos de um país e do mundo.
E, se somos cristãos, e se Jesus - sua Pessoa e sua Mensagem - são de fato o critério e a norma de nosso viver e conviver, e de nossa tarefa de construirmos uma família, uma sociedade humana, e um Reino que seja, verdadeiramente justo, fraterno e solidário para ser o de Deus, devemos agir como seus discípulos, também na política: “amar a verdade e a justiça e odiar a mentira e a injustiça” (Salmo 45,7; Zacarias 8,9; Hebreus 1,9).
E nunca perder de vista que habitamos uma pátria terrestre, e nela temos identificação maior ou melhor com grupos e movimentos de ação e influência, mas somos todos cidadãos da Cidade Celeste para onde caminhamos.
Daqui a 100 anos saberemos tudo o que seremos, e o que semeamos.
Frei Basílio de Resende ofm
Noviciado São Benedito, Montes Claros, MG
E-mail: freibasilioofm@hotmail.com
Blog: freibasilioderesende.org
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