top of page

O HÁBITO E A FARDA crônica de frei basílio de resende ofm

  • Foto do escritor: Frei Basílio de Resende ofm
    Frei Basílio de Resende ofm
  • 14 de jul. de 2020
  • 6 min de leitura

Atualizado: 14 de jul. de 2020



O HÁBITO E A FARDA

Por Frei Basílio de Resende ofm


Dizem que uns soldados convidaram o seu Padre Capelão, Frei Orlando Álvarez da Silva ofm, para ir com eles a uma festa.

Mas disseram-lhe para não ir de Hábito; que ele fosse fardado.

Ele respondeu:

“ - Onde o Hábito não pode ir, também a Farda não deve ir! ”


O Hábito é o símbolo da verticalidade do Ser Humano, homem ou mulher. É a direção do Céu, do alto para onde o Ser Humano é convidado a olhar e subir: a sua dimensão transcendente.

A transcendência.

A moralidade.

A religião.

A espiritualidade.

A mística.


A Farda é o símbolo da horizontalidade do Ser Humano, homem ou mulher. É a direção da Terra, do lado, dos horizontes, dos pontos cardeais: Leste-Oeste, Norte-Sul.

É a direção do outro, de outros, de todos os outros seres humanos.

É a direção da Pátria, das Pátrias, de todas as Pátrias terrestres.

É a direção da Cidade;

da Cidadania;

do Social;

da Justiça Social;

do Progresso;

da Ordem;

da Disciplina;

da Retidão;

da Civilidade, do País, da Nação;

do Bem Comum a todos habitantes do solo da Pátria.


A verticalidade e a horizontalidade são as duas dimensões do Ser Humano, homem ou mulher. Do Ser Humano autêntico, completo, íntegro, pleno. O Ser Humano não fragmentado, não dividido, não diminuído, não reduzido, não ideologizado, não unidimensional, não esquizofrênico. O Ser Humano inteiro!


Essas duas dimensões são representadas pelos dois braços da Cruz: o da haste vertical, do Alto dos Céus às profundezas da Terra; e o da haste horizontal, dos horizontes dos quatro pontos Cardeais, Leste-Oeste, Norte-Sul.


NOTA HISTÓRICA:


Frei Orlando ofm (Antônio) Álvares da Silva (Morada Nova de Minas, 13 de fevereiro de 1913 - Bombiana, Itália, 20 de fevereiro de 1945) foi um religioso franciscano e militar brasileiro, tendo servido como capitão capelão do Exército Brasileiro, falecido na Segunda Guerra Mundial, aos 32 anos.


Órfão com apenas um ano de idade, foi criado por família que prezava a Religião católica. Depois da primeira comunhão, em 1920, passou a frequentar assiduamente o catecismo. Nele revelou-se nitidamente o pendor para a vida clerical, o apreço pelas coisas da Igreja, a compaixão pelos humildes.


Foi assim que, aos 12 anos, aos 05 de janeiro de 1925, ingressou no Colégio Seráfico, dos franciscanos, em Divinópolis, MG, tendo, então, iniciado seus estudos no Seminário Menor, o ensino fundamental e o Ginásio. Aí recebeu uma formação diversificada: humana, cristã, franciscana, esportiva e recreativa.


No dia 17 de fevereiro de 1931, seguiu para a Holanda, onde ingressou na Ordem dos Frades Menores pelo Noviciado, estudou Filosofia e Teologia.

Voltando ao Brasil, o jovem frade foi ordenado Diácono, no dia 25 de outubro de 1936, no Santuário Santo Antônio, em Divinópolis.


No dia 24 de outubro de 1937, 2 anos após o seu regresso ao Brasil e com 24 anos, Frei Orlando é ordenado sacerdote, no mesmo Santuário Santo Antônio, por Dom Antônio dos Santos Cabral, Arcebispo de Belo Horizonte, com a presença de todos os seus irmãos.


Completada, assim, sua formação inicial para a vida franciscana e para a missão presbiteral, Frei Orlando é nomeado para São João del-Rei, para lecionar no Colégio de Santo Antônio, um estabelecimento de ensino. internato e externato, dirigido pela Ordem dos Franciscanos Menores.


Tinha 24 anos de idade. Caridoso, o jovem padre instituiu a "Sopa dos Pobres", uma obra de assistência social que chegou a receber o apoio voluntário de muitos integrantes do 11º Regimento de Infantaria (11º RI), o “Regimento Tiradentes”.


Nessa época, deparou com os preparativos da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para a Segunda Guerra Mundial, vendo a cidade em polvorosa com a chegada dos muitos convocados para integrar os contingentes da FEB.


Viu o 11º RI partir e não se conformou em permanecer impassivelmente na cidade. Assim, quando o então comandante do regimento, coronel Delmiro Pereira de Andrade, solicitou a indicação de um religioso para capelão militar ao Comissariado dos Franciscanos em São João del-Rei, Frei Orlando viu a oportunidade de concretizar um de seus mais acalentados sonhos: o de ser missionário sem fronteiras, ir a qualquer parte do mundo para multiplicar os discípulos de Deus. É nomeado Capelão Militar do 11º Regimento de Infantaria (11º RI). Integrou-se, então, à FEB, e seguiu para a Europa. Seu primeiro trabalho foi celebrar uma missa na catedral de Pisa para os pracinhas brasileiros.


Tempos depois, às vésperas da tomada de Monte Castello, durante uma visita à linha de frente, Frei Orlando morreu vitimado por um tiro acidental de um partisan (membro da resistência italiana ao nazifascismo). Contava com 32 anos de idade.


O Capitão Francisco Ruas Santos, em documento valioso descreve como ele viu morrer o nosso querido Frei Orlando:

"FREI ORLANDO

Frei Orlando, Capelão do Batalhão, estivera pela manhã do dia 20 de fevereiro de 1945, no desempenho de seus deveres funcionais, em visita às posições da 4ª Cia., na região entre Falfare e Columbura. A zona da 4ª e a 6ª Companhias, indo de Falfare a Bombiana, eram as que estavam sendo mais castigadas pelos alemães. Por isso, Frei Orlando, no observatório do Batalhão, em Monte Dell’Oro, manifestou ao Major Ramagem, seu Comandante, a intenção de visitar também a 6ª Cia. Quis, então, atingir as posições dessa Companhia pelo caminho mais curto, que ia do observatório à casa M di Bombiana e desta a Bombiana. Mas o Major Ramagem não concordou com esse itinerário, pois, na ocasião, estava todo ele sendo pesadamente batido pelos alemães. Sugeriu ao Capelão que do observatório ganhasse a contra-encosta de Monte Dell’Oro e fosse até o PC do Batalhão em Docce, de onde poderia chegar às posições da 6ª por um caminho menos exposto.


Frei Orlando encaminhou-se para Docce pelo itinerário lembrado pelo Major e achava-se à margem do caminho que ligava o PC do Batalhão ao ponto cotado 789, a 300 metros de Bombiana, quando por ele passava eu num “jeep”, para esta última região. O Capelão, inteirado da direção da viatura, nela tomou lugar. No “jeep” já se encontravam o Cabo Gilberto Torres Ruas, motorista, um praça do II Batalhão e um militar italiano, posto à disposição do Regimento, para os serviços de transporte em montanha.


Frei Orlando, em caminho, depois de dizer o que fizera pela manhã e o que pretendia fazer, falava de uma irradiação feita pelos holandeses livres para a parte ocupada de seu país. A uma observação qualquer chegou a soltar uma das suas costumeiras gargalhadas. O “jeep” marchava lentamente pelo caminho conduzindo ao ponto cotado 789, quando, de repente, estaca, imobilizado por uma pedra. Prendia esta o eixo dianteiro. Os passageiros conseguem retirar a viatura, que é posta a alguns metros além da pedra fatídica. Tomo a manivela do “jeep” e me esforço para removê-la. O italiano, no intuito de ajudar-me, recurva-se junto à pedra e também tenda retirá-la a violentas coronhadas de sua carabina. Esta dispara. Frei Orlando, que se achava parado a uns três metros, é atingido pelo projétil, solta um grito e leva a mão ao peito, dá alguns passos à frente, tirando, ao mesmo tempo, com a mão direita, do bolso do casaco, o seu terço e balbuciando, às pressas, uma Ave-Maria. Corro para ele e o faço deitar-se à margem do caminho. A oração, apenas começada, é abafada pelo ofegar da agonia. Tudo isso, desde o fatal disparo, dura uns dez segundos.


Retorno rapidamente a Docce, em busca de socorro médico e trago o Capitão João Batista Pereira Bicudo, facultativo do Batalhão. Este pôde apenas verificar achar-se morto o Capelão, desde o momento, talvez, em que acabara de ser deitado à margem do caminho. O italiano abraçado ao corpo do Capelão, chorava e se lamentava. Um pastor das redondezas contemplava esta cena. O médico descobre-se, persigna-se e reza pela alma de Frei Orlando, no que é seguido pelo Capitão e pelo Cabo.


Eram, aproximadamente, 14:00 horas do dia 20 de janeiro de 1945..."


Texto extraído do livro “De São João del-Rei ao Vale do Pó” Autor: Gentil Palhares


O boletim n° 52, do 11º RI, de 22 de fevereiro de 1945, impresso em Docce, na Itália, registrou o passamento do capelão:


"Foi recebida, com dolorosa surpresa, a notícia do falecimento do capelão capitão Antônio Alvares da Silva (frei Orlando), vítima de um tiro, quando se dirigia de Docce para Bombiana, a fim de levar sua assistência espiritual aos homens em posição, no dia 20, quando do ataque ao Monte Castelo.

O sacerdote, que desapareceu da face da Terra após ter servido com a sua pureza de sentimento à religião e à Pátria, deixa imensa saudade no seio da organização católica a que pertencia. (...) No 11º Regimento de Infantaria, como chefe da Capelania, conquistou a todos pelas qualidades apostolares. (...) No teatro de operações, nos dias de maiores atividades bélicas, jamais deixou de levar o seu conforto espiritual ou o santo sacrifício da missa em qualquer circunstância, mostrando-se, além de religioso, um forte, um bravo, um verdadeiro soldado da Cruz de Cristo."


Finda a guerra, o governo brasileiro instituiu Frei Orlando como patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército, (SAREX) criado, em caráter permanente, por decreto-lei, no ano de 1946.


Pesquisa de Frei Basílio de Resende ofm

FONTES:

- Vikipédia

- www.eb.mil.br

- Portal Agora

- “De São João del-Rei ao Vale do Pó”, Gentil Palhares, Biblioteca do Exército Editora.



 
 
 

Posts recentes

Ver tudo
NOSSA SEXUALIDADE HUMANA - II

Antes de publicar este texto, quis ouvir o parecer de Euler Carvalho Cruz, de Belo Horizonte: um engenheiro mecânico especialista mundial...

 
 
 
NOSSA SEXUALIDADE HUMANA - I

INTRODUÇÃO:     Uma dinâmica de auto percepção e auto exploração feita com rapazes candidatos â vida religiosa franciscana, no...

 
 
 

Comments


Faça parte da nossa lista de emails

Obrigado pelo envio!

  • White Facebook Icon
  • White Twitter Icon
bottom of page