O PEQUENO PRÍNCIPE: UMA PARÁBOLA
- Frei Basílio de Resende ofm
- 14 de jun. de 2020
- 5 min de leitura
O PEQUENO PRÍNCIPE: UMA PARÁBOLA
frei basílio de resende ofm
- um paralelo entre o Pequeno Príncipe e Jesus -
O homem perdido no deserto, - como a humanidade no deserto da existência - com sua salvação e sobrevivência ameaçadas; no entanto, não está só e abandonado ao seu próprio destino. Também não pode contar só com seus recursos racionais e com suas técnicas.
Perdido, sozinho, nos limites de seus poderes e recursos, alguém, - muito estranho e muito próximo, - vem ao seu encontro, aparentemente não se sentia nada perdido, pedindo-lhe um favor: “Por favor, desenha-me um carneiro!”
Como o Outro costumava pedir, um favor, um gesto de abertura e acolhimento, aos seus interlocutores: “vamos mais para o fundo e lancem as redes”, ou “me dá um copo d’água”, ou “você crê?”.
O estranho personagem lhe pede o desenho de um carneiro. No teste do desenho da jiboia, mostra-se sábio, vidente e confiante. “Não quero uma jiboia comendo um elefante. Quero um carneiro”.
O Outro estava associado a um cordeiro, que tira o pecado do mundo e corrigia as expectativas dos seus interlocutores. Não era como eles esperavam e desejavam.
Este não aceita qualquer carneiro. Um é velho, outro não é carneiro, outro está doente... Aceita o que está dentro da caixa. Envolto em mistério que exige vidência. Quem vê com o coração, vê o invisível a olho nu.
Ele tem um caso com uma flor, símbolo do Amor.
O Outro tinha uma relação especial com o invisível que ele chamava de Pai, tinha um alimento, uma paixão, um amor com o Pai.
Como o Outro que disse que o Reino está próximo, que há um tesouro escondido no campo, que é preciso tornar-se como uma criança para entrar no Reino, que é preciso converter-se...
O Pequeno Príncipe disse que há uma fonte do deserto, que, até por isto, o deserto é lindo, que é preciso aprender com as crianças, que é preciso ver com o coração, para ver o invisível, que é preciso ter cuidado com os baobás.
O Outro disse que veio buscar adoradores do Pai, em espírito e verdade.
O Pequeno Príncipe disse que veio buscar amigos que é preciso aprender a cativar.
O Outro faz amizade com a Samaritana, a pecadora, com os pecadores, que tantos desprezam.
O Pequeno Príncipe faz amizade com a raposa, que tantos combatem.
O ENIGMA DA SERPENTE
A serpente que é misteriosa. Seduz, conduz à morte. Cheia de enigmas. Mas os resolve todos. Pode conduzi-lo aonde ele quiser ir. A serpente levantada que salva.
Jesus levantado na Cruz, oferece sua vida, e salva e dá a vida eterna.
OS PLANETAS - OS PAPÉIS SOCIAIS.
Cada Pessoa é um planeta; cada um percebe os outros, o mundo, a existência de acordo com sua auto percepção de base:
Para o rei, todas as outras pessoas são seus súditos.
Para o vaidoso, todas as outras pessoas são seus admiradores.
Para o geógrafo, todas as outras pessoas são exploradores.
Para o avarento, todas as coisas são suas propriedades.
Para o alcoólatra, que se faz de vítima e de coitado, sem se dar conta de que ele é o produto de suas escolhas.
A acendedor de lampiões, o único que o Pequeno Príncipe poderia fazer seu amigo, porque era útil aos outros, é uma imagem dos padres escravos das normas e dos regulamentos: o único que é gêneros e útil. O único que poderia ser amigo do Pequeno Príncipe, mas é muito pequeno o lugar que habita
O drama do Cordeiro e da Flor.
O grande problema do Pequeno Príncipe do seu Planeta de origem: O drama do Carneiro e da Flor, se o carneiro devora a Flor, que ele ama.
Para Jesus, o grande poblema é o conceito de Deus que os Mestres de seu tempo querem apresntar. Deus é o Pai, e Jesus veio revelar sua misercicórdia, seu amor para com o mundo. Deus é amor, é flor. Não algo sádico, algo longe e inatingível.
O Cordeiro que devora a Flor; é a religião que perde a noção do amor, da misericórdia, da ligação redentora, misericordiosa entre a Flor, com quem a cativa, quem a ama. - os homens, a humanidade, todos os planetas.
Veio com uma missão e um tempo determinado. A hora de voltar. O dia, o lugar e a hora estão determinados. Ele é fiel e obedece.
O CLIMA DE DESPEDIDA
Há todo um clima de despedida, de preparação para a separação física, como no evangelho de João capítulos 13 a 15.
Eu parecerei morrer. Mas não é verdade.
O Outro anuncia a sua hora, a sua paixão e ressurreição.
Deixa uma lembrança: o presente de despedida, o pão, o trigo, o vinho, a uva, a palavra; “Façam isto em minha memória”
Para a raposa, e os que ele cativou, o barulho do vento, os trigais, vão ter um novo significado. Serão o memorial da amizade do amor, da aliança, dos laços.
O presente: só se vê bem com o coração. Tu te tornas responsável, a dor passará, a gente sempre se consola.
O Outro prometeu os sinais, os ritos, o memorial, o consolador, o advogado.
Envia o aviador à sua tarefa, à sua missão, de retornar aos seus.
Tombou como uma árvore tomba.
O Outro carregou o madeiro, deixou-se cravar no madeiro, inclinou a cabeça e entregou seu espírito.
O corpo colocado no sepulcro, na rocha.
O sepulcro vazio. O corpo não é encontrado. Ele não está aqui.
O corpo do Pequeno Príncipe, também, não foi encontrado. Fica-se na espera de que voltará.
Deixou sinais de sua presença, de seu amor que está perto, que cuida. As estrelas... São guizos que riem. Através de cada estrela ou planeta, estarei rindo para você.
O Outro deixou sinais de sua presença. Aos que receberem o menor dos meus irmãos, é a mim que recebem; o que fizerem ou deixarem de fazer ao menor dos meus irmãos é a mim que o fizeram ou deixaram de fazer.
Ficaram a saudade, a nostalgia, a espera. A certeza de ele voltará
O aviador diz: “Vocês que amam o Pequeno Príncipe, se ele voltar, por favor, venham me dizer”. O autor, Antoine de Saint Exupéry, foi cristão na adolescência, 'perdeu' a Fé aos 18 anos. Teve sempre a nostalgia da Fé, que manifestou em seus escritos. E buscou, em toda a sua vida e suas lutas também contra o nazismo, um sentido para a vida, que ele procurou encontrar na amizade, na profissão, no amor, na solidariedade. (p. ex. em seus livros "Voo Noturno", "Terra dos Homens". "Piloto de Guerra", "Cidadela", "Carta ao General X").
Dirige-se aos cristãos que esperam o retorno de Cristo.
Que precisam conservar a memória viva do novo mandamento. Conservar a certeza de que o encontrarão em cada outra pessoa, em cada estela.
Os que esperam o Pequeno Príncipe, o Senhor, devem ser estrelas, luminosas, e não planetas egocêntricos e mesquinhos. Devem ser como as crianças. Estes entrarão no Reino. Serão novas criaturas num novo céu e numa nova terra.
Betim, 10 de setembro de 2015.
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