UMA MENINA DE 10 ANOS, GRÁVIDA DO TIO
- Frei Basílio de Resende ofm
- 26 de ago. de 2020
- 10 min de leitura
Atualizado: 27 de set. de 2021
EU SOU UM SER UNICELULAR,
UMA CÉLULA-OVO TOTIPOTENTE
A CAMINHO DE UMA EXISTÊNCIA HUMANA.
TEREI CHANCE?
Texto de Frei Basílio de Resende ofm
(Desde o ventre materno, a vida, o aborto e a Bíblia:
diante do sofrimento: Jo 3,1-26; Jer 20,17-18; Sl 57(58), 9; diante da vocação desde sempre: Rm 8,29; Sl 138(139)13-16; ; Sl 70(71)5-6; Is 44,2; 49,1; Jer 1,5; Gl 1,15)
Zigoto (do grego zygōtos "junto" ou "jugado", derivado de ζυγοῦν zygoun "juntar" ou "jugar"), também denominado ovo nos animais, é a célula eucariótica resultante da fecundação, que ocorre entre dois gametas mutuamente compatíveis, sendo o produto final da reprodução sexuada. Zigoto, ou célula-ovo, é a célula formada após a união do espermatozoide (gameta masculino) com o ovócito (gameta feminino). Gametas são células haplóides. São células de reprodução sexuada, feitos para se fundirem a um outro gameta e dar origem ao Zigoto, que é uma célula diplóide.
Essa única célula totipotente é responsável por formar todo o nosso organismo. É a célula que resulta da união de duas outras células compatíveis e dá origem a um novo indivíduo.
Quando o zigoto atinge o útero já se dividiu cinco ou seis vezes, formando uma bola oca de células cheia de fluido. O bebé em formação chama-se embrião durante os primeiros dois meses (ou até às 12 semanas da gravidez). Com três meses, o bebé é um ser humano em miniatura e passa a chamar-se feto. Até a 23ª semana de gestação o feto nada mais é que um grupo de células, sem consciência, dor ou prazer.
Feto é o bebê em formação desta época até o fim da gestação. Para certa crença, é um ser humano completo. Nenhum ser humano, vivente, teve outro início
O COMEÇO
Eu, fui iniciado/a como um ser unicelular, um ovo totipotente, agora sou um embrião de 22 semanas, já um feto de 5 meses e 15 dias, a caminho de uma existência humana, terei uma chance?
Tu, Criador do Universo e de todos os seres, os inanimados e os viventes, - nas águas, nos ares, na terra e no subterrâneo; Tu, - Pessoa Bondade e Pessoa Sabedoria e Pessoa Amor, Unotrino e Trinouno, - Tu é quem chama à existência os seres que existem, desde o infinitamente pequeno (o átomo, a molécula e a célula) até o infinitamente grande (os astros, as estrelas, o Cosmo, o Universo). Tu, me quiseste, antes que o mundo fosse criado.
Sou o fruto da inconsciência inocente de minha mãe biológica e da inconsciência moral com incontinência sexual de meu pai biológico.
Nem uma, nem o outro, sabiam o que faziam.
Minha mãe biológica, aos 6 anos, sentia os toques e carinhos de meu pai biológico, seu tio, como se fossem os afetos, agrados e carinhos de um familiar adulto com uma criança. Ela achava que tudo que acontece entre um tio e sua sobrinha era normal.
Até que o organismo de minha mãe desenvolveu-se, chegou à puberdade e tornou-se biologicamente capaz de gerar uma vida.
E aconteceu que eu surgi entre eles, minha mãe, ainda criança de 10 anos, e meu pai, já adulto de 33 anos.
E AÍ, ACONTECEU.
Aqui estou Eu, - um ser unicelular, ovo, embrião, já feto, a caminho de uma existência humana -. Terei chance?
Aqui estou, uma simples célula ovo, mas, em questão de 9 meses, umas 36 semanas, acontecerá uma mutação fabulosa; semelhante à mutação da vida no Universo, de um ser unicelular a toda esta multiplicidade de formas de vida no Universo, a fabulosa biodiversidade no Cosmos, inclusive e sobretudo, a forma humana de vida, a Tua obra prima em cuja razão tudo criaste!
Afinal, a ontogênese (a formação de um ser individual) repete a filogênese (a formação da sua espécie).
Iniciei, repito, como ser unicelular, um ovo disforme, um embrião, um feto, da mesma maneira como é o início de todo vivente; como iniciaram os meus antepassados, a minha genealogia, os casais antepassados, patriarcas e matriarcas, os ancestrais da humanidade de todas as famílias, clãs, tribos, nações que povoaram a terra e produziram a população atual do Planeta Terra. Todos tiveram o seu início unicelular, como eu. Eles tiveram a chance que agora me negam.
Eu não vou ver o rosto de minha mãe e seu sorriso, e não vou amamentar em seus peitos, nem descansar em seu seio, nem receber os carinhos e cuidados de meu pai, nem os estranhos e loucos afetos de minha avó, bisavó, e da parenteia toda.
Eu sou uma simples célula tronco, uma célula ovo, um ser unicelular, invisível a olho nu. Ninguém tem notícia de que existo.
Mas, na verdade, sou Tua criatura e Tu, o meu Criador.
POR QUE ACONTECEU ISSO?
Meu pai era favorável à teoria e à prática do sexo como entretenimento; favorável à satisfação do prazer sensorial, sensual, erótico, libidinal, até ao orgasmo, como simples entretenimento, sem consequências.
E já que ele dispunha de uma oportunidade, - no âmbito dos segredos e intimidades familiares entre tio e sobrinha, - ele tirava proveito e praticava o sexo, como puro prazer e entretenimento. Assim como as canções Funks, os shows, as novelas televisivas e as canções das paradas de sucesso das emissoras e dos programas radiofônicos apregoam e induzem.
Tudo como jogo, brincadeira e entretenimento. Puro prazer, sem consequências.
Como um futebolista, goleiro famoso e rico que engravidou uma mulher, da qual lhe nasceu um filho, em vez de dar uma pensão para a criança, ele decidiu matar, a mãe e o filho, e esconder-lhes o corpo, justificando que aquilo fora uma orgia, e não amor.
Mas, tu és o Amor e o Senhor da Vida, e não de orgias. Tu que és Amor queres sempre a Vida.
Como nasceu aquele menino, eu fui gerada para uma vida eterna, para conhecer a tua
Beleza e gozar da tua Glória.
E AGORA?
Aqui estou eu, aninhada no útero de uma menina, minha mãe, há pouco mais de 22 semanas.
E eu não quero ser um sinal de vergonha para minha mãe, que nem sabia bem ao que era submetida pelo seu tio.
Nem quero ser um sinal de vergonha para o meu pai, que é também, meu tio-avô, que sabia muito bem o proibido crime que fazia e praticava - sem autocontrole, sem continência, sem abstinência e sem castidade - com minha mãe, sua sobrinha, ainda uma criança.
Mas, também, não quero ser uma razão de escândalo público, nem um motivo para campanhas e movimentos políticos e ideológicos:
• pró ou contra o sexo livre para entretenimento;
• pró ou contra o aborto como opção da mãe biológica dona do seu corpo;
• pró ou contra a vida ou a morte como escolhas, leis e sentenças de juízes e executores técnicos da ordem judicial.
Todos se esquecem de que foram, no início, um ser unicelular, um ovo, um embrião, um feto, um nascituro, como eles mesmo dizem para se justificar: “um grupo de células, sem consciência, dor ou prazer.” Mas com direitos a viver e cumprir o seu destino humano, sua predestinação terrestre e celeste, como eles todos tiveram.
E A FAMÍLIA?
Mas onde estão minha avó e meu avô maternos? Por que deixaram minha mãe biológica criança com a minha bisavó materna para a criar e educar? E onde esteve minha avó paterna, - que é ao mesmo tempo minha bisavó materna, - que, primeiro não educou seu filho, - meu pai, - para controlar-se e respeitar crianças, e a não buscar relacionamento íntimo – adulto e entre adultos - com crianças: o que é um crime?
E depois, já que era responsável por minha mãe, não a advertiu para tomar cuidado e não aceitar certas brincadeiras que meu pai tinha com minha mãe criança e sua sobrinha? E nem aconselhou e orientou minha mãe em sua puberdade. Não esclareceu nem alertou minha mãe quanto aos olhares e brincadeiras de meu pai, com minha mãe criança e sua sobrinha; ela, ingênua – inocente ou maliciosa – pensava que era porque o tio gostava dela e porque ela era bonita e atraente. E pensava que eram coisas entre tios e sobrinhos, mesmo crianças.
Onde estavam os adultos do meu âmbito familiar, escolar, comunitário e social que nada perceberam dos apelos indiretos de minha mãe, ainda uma criança de 10 anos, - uma pessoa com personalidade em formação? Minha mãe não tinha condições de compreender os dramas de uma fêmea humana nos intrincados e complexos anseios e desejos próprios, podia ser considerada como um mero objeto provocante involuntário das fantasias e desejos do homem adulto, seu tio, e já estava grávida sem o saber. Ela, não conseguiu encontrar, no seu entorno, uma pessoa adulta, acolhedora e compreensiva, diante da qual pudesse dizer de forma direta e assertiva o que estava acontecendo com ela! Ela só sentia o que pensava serem dores de barriga, por isso procurou o Hospital.
AGORA, EU DECIDO
Eu, que sou o/a inominado/a, digo: não será feita a minha vontade, mas a vontade daqueles e daquelas que querem e decidiram a minha interrupção.
Tu deste a todos eles esse poder. Eu, que fui essa única célula totiponte e já sou um feto, só tenho o poder e a tarefa vital de me formar um organismo humano completo, viável, ao ser expulso deste meu ninho inicial, o útero de minha mãe. Não tenho poder de impedir que interrompam o meu desenvolvimento natural.
Eu ofereço, então, a minha possível existência para evitar males e sofrimentos de outros:
• de minha mãe biológica que não me quis - ela apenas, queria viver e crescer, já que é uma pré-adolescente;
• de meu pai biológico que não me quis – ele queria apenas o entretenimento, embora ilícito e criminoso por ser com uma criança;
• dos favoráveis à política do aborto, do entretenimento sem consequências – eles e elas decidiram negar e recusar a sua própria dimensão humana espiritual e transcendente;
• dos contrários à política do aborto - sem terem condições e eficácia social para exigir e garantir o cuidado eficaz pela dignidade, pela saúde, pela educação, pela cultura e pelo bem estar concreto e completo dos que nascem.
UMA OFERENDA A TI, AMOR E SENHOR DA VIDA
Tu, Senhor, que és o Eterno, para Ti, um instante é como mil anos. Eu fui chamado/a à Tua Glória eterna.
Mas, agora, após estas minhas 22 semanas de vida intra-uterina, - por única graça do Teu Verbo criador que esteve também no mesmo estágio em que estou num útero que o quis, - vou direto à Tua Vida eterna, sem conhecer e me maravilhar com as belezas das Tuas criaturas terrestres, nem eu mesmo/a ser um reflexo e espelho de Tua Bondade e Beleza para todos que me veriam, se eles e elas me tivessem dado a chance que tiveram. Mas não conhecerei, tão pouco, nem a tolice e nem as malícias e maldades dos humanos.
Eu fiquei famoso/a, em relação aos meus inumeráveis irmãos e irmãs, cuja vida terrena sofre interrupção, a cada dia no mundo sem os holofotes da mídia e das publicidades que eu recebi. Tantas vidas iniciadas por aqueles e aquelas que buscam, apenas, o entretenimento inconsequente, enquanto que Tu queres, sempre, a Vida, uma vida terrena com dignidade, sabedoria, justiça e amor, e a Vida eterna para todos. Porque Tu és Amor!
Tua Vontade seja feita, ó eterno Senhor da Vida!
Para o mundo sou um “feto abortado” (Sl 57(58) 9), para Ti, fui conhecido/a desde sempre e predestinado/a me conformar à imagem do Teu Filho (Rm 8,29).
FUI INTERROMPIDA
Não sou a primeira criatura, nem serei a última, a ter suas chances de existência interrompidas, na história da humanidade. Não vou lamentar, eles decidiram, está feito. “Tudo está consumado!” (Jo 19,30).
Ou poderia vir a ser uma existência de uma pessoa simples, humilde, obscura, escondida, como tantas vidas neste mundo. Mas todas, elas infinitamente preciosas para Ti.
Ou seria uma existência, como uma de Tuas mulheres fabulosas que a história e a memória dos tempos conhece, das mulheres ancestrais, matriarcas dos antepassados ou dos contemporâneos, Sábias e doutoras?
Ou poderia ser como um dos Teus profetas de que o mundo contemporâneo carece? Ou um dos gênios da ciência, da arte, da santidade?
Poderia, talvez, por Tua única graça e bondade, revelar em mim Teu Verbo, Tua santidade?
SE ME TIVESSEM DADO A CHANCE QUE TODOS ELES E ELAS TIVERAM!
Em algum lugar do Planeta, agosto de 2020
Assinatura: O/A INOMINADO/A.
O DIÁLOGO CONTINUA:
(Tenho uma amiga, que conheci, criança de 7/8 anos, em casa de seus pais, Dr. Edgar Silva e Dra. Edir Amélia Rocha, em Visconde do Rio Branco, MG, em 1966, Ariadne Rocha Silva, psicóloga, artista plástica, hoje residindo em Cascais, Portugal. Mãe de família, gerou e educou três, admiráveis seres humanos. Ela me escreveu, no Messenger: “Criei meus filhos, com a ajuda do Benoit e hoje são adultos, trabalhadores e filhos maravilhosos. Paul é engenheiro em microtécnicas, estudou em Lausanne e hoje mora em Zurique. Julie fez hotelaria, também em Lausanne, é casada, está esperando um bebé, morou 6 anos em Shanghai e atualmente mora em Ho Chi Min (Shangai). Marie-Cécile, estudou em Madrid, fez economia-administração, mora em Paris. Todos têm ótimos empregos e são independentes. Só me dão orgulho e alegria!!!”)
Ela reagiu ao meu texto, de uma maneira tão enriquecedora que resolvi publicar e compartilhar com os eventuais visitadores deste espaço.
Ariadne Rocha Silva: “Frei, li seu texto com atenção. Como psicólogos, poderíamos discutir este tema de extrema complexidade por horas a fio, levando em conta os diversos fatores (psicológicos, sociais, ideológicos, religiosos, etc) e as pessoas (criança, tio, pais, avós). O direito à existência humana a partir da concepção.
Entretanto, neste caso preciso, não se trata apenas do tema "aborto" que impede este direito. Estamos falando de um outro tema "o abuso sexual, agravado por ser cometido sobre crianças", o que torna a situação muito mais complexa e grave. Sendo assim, me permito fazer algumas observações.
Na minha opinião, a criança (mãe) é, - e tem que ser reconhecida como - a maior vítima; o adulto abusador (tio) é responsável pelo seu ato. Nenhuma criança sensualiza ou erotiza sua relação com um adulto.
Mesmo se ela quer se mostrar bonita, não quer seduzir sexualmente. Sua sedução é em busca de amor, atenção, aprovação e isto é absolutamente normal para todas as crianças.
Mesmo que o adulto "veja" nisto uma conotação sexual, ele é capaz de discernir o ABUSO-ESTUPRO. Da mesma forma que a criança não tem capacidade de discernir que seus atos podem induzir à uma sedução sexual,
TODO adulto é perfeitamente capaz de saber que quando ele toca a criança ele está fazendo algo errado, abusando do seu poder de adulto e cometendo um crime. Ele é o Responsável deste limite. Isto não é SÓ questão de exemplos ou educação: filhos de abusadores NÃO serão necessariamente abusadores!
Tampouco, e aí eu discordo com o Senhor, ele não está procurando apenas a "prática do sexo como entretenimento e prazer", "como as canções Funks, novelas, etc., apregoam e induzem" (NUNCA apregoam ou induzem que este ato seja feito com crianças (mesmo se não sou totalmente a favor, não considero em absoluto que caiba aqui esta referência) .
Ele procurou esta prática, num abuso de poder, contra uma criança que não podia ter o mesmo interesse nem o mesmo discernimento do ato.
Sexo como entretenimento, pode ser um assunto discutido desde que entre ADULTOS e que estes CONCORDEM com o ato. Nunca sem o ACORDO do parceiro(a) e nunca com MENORES! Do contrário é abuso/estupro e mais grave, se for contra crianças.
A criança na maioria das vezes não denuncia seu abuso, não só porque pode achar que é uma coisa normal (pois confia no adulto e não teve ninguém para lhe explicar o certo do errado), mas também porque é ameaçada pelo seu abusador.
A criança é Absolutamente inocente e VÍTIMA e o adulto é o ESTUPRADOR, responsável pelo seus atos e deve pagar juridicamente pelo que fez. Realmente é uma situação lastimável e que infelizmente ainda acontece não só em países subdesenvolvidos e nem só em classes baixas, com menos acesso à educação. Acontece a qualquer lado, com pessoas de níveis Sócio-cultural-econômico diferentes.
Concluindo: Afinal, mantendo suas devidas responsabilidades, TODOS eles, - criança, tio, pais, avós - deveriam ser devidamente ajudados, sobretudo a nível psicológico e merecem nossa COMPAIXÃO!”
“O mundo está ao contrário e ninguém reparou”... o ser humano investe milhões Para encontrar vida em outros planetas, mas destrói uma vida intrauterina!
Paz plena... Basílio, belo texto. Aqui só faço uma referência ao que está escrito em Mateus 18,5-11... Só mesmo um escândalo para que os seres humanos entendam que muitos confundem o AMOR e a liberdade com apenas atos irresponsáveis e libertinos. Sexo por sexo nunca foi AMOR, mas sexo é sim um completo entre o AMOR responsável entre os cônjuges com responsabilidade e plena fidelidade.