VOCÊ CONHECE DIETRICH BONHOEFFER?
- Frei Basílio de Resende ofm
- 24 de set. de 2021
- 7 min de leitura
DIETRICH BONHOEFFER
(1906-1945), VIVEU APENAS 39 ANOS.
UM SER HUMANO, CRISTÃO, QUE VIVEU O SEU TEMPO HISTÓRICO ATÉ ÀS ÚLTIMAS CONSEQUÊNCIAS.
ENFRENTOU A INSANIDADE DA IDEOLOGIA NAZISTA, COM A CIÊNCIA, O PENSAMENTO CRÍTICO, A REFLEXÃO CRISTÃ E A RESPONSABILIDADE ÉTICA DE SEU DISCIPULADO NO SEIO DE UMA COMUNIDADE DE DISCÍPULOS COM UMA MISSÃO NO MUNDO.
(Dietrich Bonhoeffer, 1906-1945)
Dietrich Bonhoeffer foi um grande teólogo protestante alemão, considerado um dos mais relevantes do século XX. Perseguido e aprisionado pelo nazismo, foi enviado a um campo de concentração, onde foi executado, já em fins da Segunda Guerra. Para mais textos e informações sobre Bonhoeffer, visite: http://www.sociedadebonhoeffer.org.br
ALGUNS DE SEUS POEMAS ESCRITOS DA PRISÃO:
DISCIPLINA Se saíres em busca da liberdade, aprende, antes de tudo, disciplina dos sentidos e de tua alma, para que os desejos e teus membros não te levem ora para cá, ora para lá. Casto seja teu corpo e teu espírito. plenamente sob teu domínio e obediente na procura do alvo que lhe foi colocado. Ninguém experimenta o mistério da liberdade a não ser pela disciplina. AÇÃO Não qualquer coisa, mas o correto deve ser feito e arriscado; não se deve flutuar no possível, mas agarrar valentemente o real; a liberdade não está no vôo dos pensamentos, mas tão-somente na ação. Sai da medrosa hesitação para a tempestade dos acontecimentos, sustentado apenas pelo mandamento divino e pela tua fé, e a liberdade acolherá teu espírito com júbilo. SOFRIMENTO Maravilhosa transformação. As mãos fortes e ativas estão amarradas. Impotente e solitário, vês o fim de tua ação. Não obstante, respiras aliviado e colocas o correto tranqüila e confiantemente em mãos mais fortes e te dás por satisfeito. Só por um momento tocaste, feliz, a liberdade, entregando-a então a Deus para gloriosa consumação. MORTE Pois vem, festa máxima no caminho para a eterna liberdade; morte, destrói as fatigantes correntes e muralhas de nosso corpo passageiro e de nossa alma cega, para que finalmente vislumbremos o que nos é negado ver aqui. Liberdade, procuramos-te longamente em disciplina, ação e sofrimento. Morrendo, te reconhecemos agora na face de Deus.
Tradução de Helberto Michel Extraído de: Bonhoeffer, Dietrich. Ética. São Leopoldo: Sinodal, 2005.
QUEM SOU EU?
Quem sou eu? Seguidamente me dizem
que saio da minha cela
tão sereno, alegre e firme
qual dono de um castelo.
Quem sou eu? Seguidamente me dizem
que da maneira como falo
aos guardas, tão livremente,
como amigo e com clareza
parece que esteja mandando.
Quem sou eu? Também me dizem
que suporto os dias do infortúnio
impassível, sorridente e com orgulho
como um que se acostumou a vencer.
Sou mesmo o que os outros dizem de mim?
Ou apenas sou o que sei de mim mesmo?
Inquieto, saudoso, doente,
como um passarinho na gaiola,
sempre lutando por ar, como se me sufocassem,
faminto de cores, de flores, de pássaros.
Sedento de palavras boas, de proximidade humana.
Tremendo de ira a respeito da arbitrariedade e ofensa mesquinha,
nervoso na espera de grandes coisas,
em angústia impotente pela sorte de amigos distantes,
cansado e vazio até para orar, para pensar, para produzir,
desanimado e pronto para me despedir de tudo?
Quem sou eu? Este ou aquele?
Sou hoje este e amanhã um outro?
Sou porventura tudo ao mesmo tempo?
Perante os homens um hipócrita?
E um covarde, miserável diante de mim mesmo?
Ou será que aquilo que ainda em mim perdura,
seja como um exército em derradeira fuga,
à vista da vitória já ganha?
Quem sou eu?
A própria pergunta nesta solidão,
de mim parece pretender zombar.
Quem quer que sempre eu seja,
Tu me conheces, oh, meu Deus,
Sou Teu.
CRISTÃOS E PAGÃOS
Homens vão a Deus na sua tribulação,
choram por ajuda, pedindo felicidade e pão,
salvação da doença, de culpa, da morte.
Assim fazem todos, todos, cristãos e pagãos.
Homens vão a Deus na sua tribulação,
o encontram pobre, ultrajado, sem teto nem pão,
o veem consumido pelo pecado, fraqueza e morte.
Os cristãos estão próximos de Deus no seu sofrimento.
Deus vai a todos os homens em sua tribulação,
sacia o corpo e a alma com o seu pão
morre na cruz por cristãos e pagãos
e a estes e àqueles perdoa.
FELICIDADE E INFELICIDADE
Felicidade e infelicidade
que rápidas nos colhem e nos dominam
elas são, no início,
como o calor e o frio ao primeiro contato
tão próximas a quase não se distinguir.
Como meteoros
arremessados de distâncias ultramundanas
percorrem luminosos e ameaçadores o seu curso
sobre a nossa cabeça.
Quem foi atingido, fica atordoado,
diante dos cascalhos
da sua cotidiana, cinzenta existência.
Grandes e sublimes,
destruidoras, vitoriosas,
felicidade e infelicidade,
invocadas ou não,
fazem o seu solene ingresso
entre os homens aborrecidos,
ornam e revestem
aqueles que atingem
de gravidade e sacralidade.
A felicidade é rica de medo
a infelicidade de doçura.
Indivisas parecem vir
uma e outra do eterno.
Ambas grandes e terríveis.
De longe, de perto,
correm pessoas ao redor, olham
de boca aberta,
parte com inveja, parte com horror,
o portento
no qual o ultraterreno,
levando junto bênção e aniquilação,
oferece-se com desconcertante, indissociável
espetáculo terreno.
O que é a felicidade, o que é a infelicidade?
Somente o tempo lhes separa.
Quando o evento imprevisto
que acontece incompreensivelmente
se muda em duração desgastante e atormentadora,
quando as horas do dia decorrem lentamente
nos revelam a verdadeira imagem da infelicidade,
então, quanto mais se distanciam,
desapontados e entediados,
cansados pela monotonia
da infelicidade já de longa data.
Esta é a hora da fidelidade
a hora da mãe e da amada
a hora do amigo e do irmão.
A fidelidade ilumina toda infelicidade
e a recobre delicadamente
de doce
ultraterreno esplendor.
Algumas de sua ideias teológicas:
Jesus Cristo como o centro
Acreditava que ser cristão consistiria em orar e fazer o que é justo entre as pessoas, porque a Encarnação e a Cruz estabelecem um amor abrangente pelo mundo. Em uma carta a Theodor Litt em 1939, disse:
“
Só porque Deus se tornou uma pessoa pobre, miserável, desconhecida, malsucedida, e porque a partir de agora Deus quer ser encontrado sozinho nesta pobreza, na cruz, é por isso que não podemos nos livrar das pessoas e do mundo, é por isso que amamos os irmãos.
”
Discipulado
“
Discipulado significa adesão a Cristo, e porque Cristo é o objeto dessa adesão, esta deve tomar a forma do discipulado. ... Cristianismo sem o Cristo vivo é inevitavelmente cristianismo sem discipulado, e cristianismo sem discipulado é sempre cristianismo sem Cristo. Isso permanece uma ideia abstrata, um mito que tem um lugar para a paternidade de Deus, mas omite Cristo como o Filho vivo. E um cristianismo dessa natureza é nada mais nada menos que o fim do discipulado. Em tal religião há confiança em Deus, mas não há seguimento de Cristo. Porque o Filho de Deus se tornou Homem, porque ele é o Mediador, e por essa razão apenas o único relacionamento verdadeiro que podemos ter com ele é segui-lo. Discipulado é estar vinculado a Cristo como o Mediador, e onde isto é adequadamente entendido, necessariamente implica em fé no Filho de Deus como Mediador. Somente o Mediador, o Deus Homem, pode chamar homens para segui-lo...
“
se nosso cristianismo deixou de ser discipulado, se nós afogamos o evangelho em uma exaltação emocional que não faz exigências custosas e que não faz distinção entre a existência natural e a existência cristã, então nós não veremos a cruz a não ser como uma calamidade comum de cada dia, como uma das provas e tribulações da vida."
Ética
O cristão individual e a comunidade de crentes não podem se esquivar de decisões em situações pessoais e históricas concretas, pois somente desse modo, poderia haver a plenitude de vida que a mensagem de Jesus promete[6].
A ética de Bonhoeffer é uma ética da ação responsável da Igreja no mundo. Entende que há duas maneiras de se discernir a vontade de Deus em uma situação concreta: a primeira é a necessidade do próximo (nunca a da própria pessoa em primeiro lugar) e a segunda, o exemplo de Jesus[1].
Como ele vivenciou sua morte
Em 1955, o médico do campo de concentração, Hermann Fischer-Hüllstrung, relatou o fato do seguinte modo:
"Pela porta entreaberta de uma sala no prédio do quartel, vi o pastor Bonhoeffer ajoelhando-se em profunda oração com seu Senhor Deus antes de tirar as roupas dos prisioneiros (os executados deviam despir-se completamente e ir nus para a forca). Fiquei profundamente chocado com a forma devocional e certa de oração desse homem extraordinariamente simpático. Ele também ofereceu uma breve oração no local da execução e então, com coragem e calma, subiu a escada para a forca. A morte ocorreu depois de alguns segundos. Em meus quase 50 anos de atividade médica, dificilmente vi um homem morrer com tanta devoção."
”
Livros de sua autoria publicados no Brasil
· Orando com os Salmos - O autor propõe uma chave hermenêutica para a leitura do Antigo Testamento, em moldes tipicamente luteranos. Desse modo, Jesus Cristo é a chave para a interpretação da Bíblia Hebraica. Trata-se de uma proposta de leitura dos Salmos a partir do princípio hermenêutico de buscar nas Escrituras "o que exalta a Cristo”. Segundo o autor:
"se pois quisermos ler e orar as orações da Bíblia, especialmente os Salmos, então não devemos começar indagando o que elas têm a ver conosco, mas devemos perguntar o que elas têm a ver com Jesus Cristo"
”
.Trata-se de uma obra escrita em uma época na qual o antissemitismo estava em ascensão na Alemanha. Ao exaltar a importância dos Salmos na vida devocional cristã, o autor lembra a figura do Rei Davi, a quem a tradição atribui a autoria de boa parte do Saltério. Davi torna-se uma espécie de símbolo do elemento judaico, que é a raiz e o berço da fé cristã. O livro foi censurado pelas autoridades nazistas e somente foi reeditado na Alemanha na década de 1950.
·
Ética, Editora Sinodal, 2005
· Discipulado, Editora Sinodal, 2004 - Trata-se de um comentário ao Sermão da Montanha (Capítulos 5 a 7 do Evangelho segundo Mateus), que contém uma crítica ao espírito de “cristandade” existente na Alemanha da época, onde se pensava que quem nasceu na Alemanha seria cristão por definição. Percebe-se a influência que recebeu de Søren Kierkegaard (1813-1855), filósofo dinamarquês, pai da vertente cristã do existencialismo filosófico, que cerca de cem anos antes havia criticado a mesma situação em seu país. Nessa obra são apresentados conceitos como: “graça barata” (billige gnade) e “graça preciosa” (teure gnade). O autor enfatiza a radicalidade do chamado de Jesus aos que querem segui-lo – seguir Jesus é tomar a cruz (cf. Lc 9.23).
"Graça barata é a pregação do perdão sem exigência de arrependimento, do batismo sem a disciplina da igreja, de comunhão sem confissão, de absolvição sem confissão pessoal. Graça barata é graça sem discipulado, graça sem a cruz, graça sem Jesus Cristo, vivo e encarnado."
”
.
· Resistência e Submissão: Cartas e Anotações Escritas na Prisão, Editora Sinodal, 2003
· Tentação, Editora Sinodal, 2003 - Analisa a tentação de Adão e de Jesus, que resultaram, respectivamente, na queda do ser humano e de Satanás e, ainda, aborda a tentação da carne, a do espírito e a tentação total[8].
· Vida em comunhão, Editora Sinodal, 1986 - Trata-se de uma orientação escrita para a vida diária dos seminaristas de Finkenwalde, na qual o autor fez uma espécie de adaptação de um modelo monástico beneditino para a vida dos seminaristas luteranos[1].
Livros sobre Bonhoeffer publicados no Brasil
· Dietrich Bonhoeffer: cristianismo e testemunho, Ir. Miriam Cunha Sobrinha, Editora Edusc, 2006
· Dietrich Bonhoeffer: Vida e Pensamento, Werner Milstein, Editora Sinodal, 2006
· Bonhoeffer: o mártir, Craig J. Slane, Editora Vida, 2007.
· Vítima e vencedor do nazismo - Dietrich Bonhoeffer, Georges Hourdin, Paulinas Editora, 2002.
· Bonhoeffer: Pastor, Mártir, Profeta, Espião, Eric Metaxas, Editora Mundo Cristão, 2011
· Cristianismo Arreligioso - Uma introdução à cristologia de Dietrich Bonhoeffer, Martin Barcala, Fonte Editorial, 2010[9].
Fonte: Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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